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Cap 78- Lembrança do pai

  E a namorada continua com seus modos despojados que contrastam com a seriedade dele.
-Ele tá iludido. Vai passar.
-Tomara! –Diego expõe com vontade. –Porque ele tá um mala, insuportável e de jeito nenhum eu não vou aguentar...
 A fala dele é ocupada por um brusco beijo, quando cercando seu caminho ela e brincando com sua língua, Roberta lhe dá uma tarefa muito mais agradável que a da fala, o que consegue ocupar Diego por alguns inesquecíveis minutos.
 Ele a afoga no peito e abriga seu corpo dentro do casaco de modo que unidos, os abdomens alternam percebendo um no outro a respiração. O sereno da noite se mistura com o vapor das narinas e das bocas fervendo molhadas uma sobre a outra.
 Ela vai se desprendendo devagar:
-Eu tenho uma coisa pra dar a você. Quase esqueci. É muito especial...
-Não precisa, você já é toda minha... –E Diego brinca na cintura dela.
-Hum... Mas eu quero te dar um presente, já que estragaram nossa noite. –E Roberta faz o bico de sempre antes de retirar algo da bolsa.
-O que é isso?
 Diego observa o pedaço de pano negro com imagens douradas e algo escrito entre duas asas. Com certeza os traços de longe identificam o rock. A namorada estava sempre entre caveiras e guitarras que se penduravam em suas mãos e dedos, mas aquilo ele ainda não havia visto.
-Eu comprei quando fui nem show de Rock em Nova York com meu pai.
-Com seu pai? –Diego se surpreende no mesmo instante.
-É, eu era pirralha e essa foi a única vez em que saí com ele e foi divertido. Enfim... Depois desse dia que eu fiquei fissurada em rock’ n roll.
-Seu pai que te deu essa bandana?
-Foi. –Ela olha para o pano que se estendia nos olhos como se a lembrança retornasse 10 anos atrás. –Eu lembro que eu enchi tanto a paciência dele por ela, era a última dessa banda e ele quase apanhou de um outro cara lá, fortão, que tava na disputa pra comprar também. –Roberta ri.
-Nossa!
-Acho que foi por isso que ele não me levou mais pra sair com ele. Eu sempre fui uma peste!
-Claro que não foi por isso...
-É, mas eu não quero falar dele. O que eu quero é te dar isso. -Ela lhe entrega –Toma. Eu quero que guarde.
-Sério? –Ele segura estudando o objeto. –Mas pensei que fosse importante pra você.
-E é! Por isso mesmo eu quero que fique com você, pra se lembrar de mim.
-Ah... –Ele sorri enternecido. –Obrigado minha linda, vou cuidar muito bem.
-Ele tá comigo desde criança, acho que tem até o meu cheiro!
-Hum... –Diego experimenta. –E tem mesmo!... Então quer dizer que quando eu não puder correr pra te ver... tipo... –Ele faz cena, se abraçando a ela. -No caso de um ataque de marcianos ou uma guerra atômica... Porque só essas coisas iriam me impedir de te ver, né? Ainda assim, eu teria o seu cheiro comigo?
 Roberta balança a cabeça rapidamente em um “sim”.
-Que delícia...
-Você tá muito bobo hoje... –Ela se alegra.
-É que eu to feliz... Mesmo com a interrupção que tivemos, eu to feliz...
-Ah, é? E posso saber qual é o motivo de toda essa felicidade?
-Claro que pode. O motivo tá me abraçando agora e me perguntando o motivo.
-Ah. –Ela solta um riso mole. –Lindo...
 O olhar brincalhão dele tem algo a mais que Roberta via bem. E cobertos pelo céu escuro eles permitem aos olhos adormecerem por alguns instantes quando mais um beijo é pedido pelo frio que se instala no estômago e pelo calor que subia pelo rosto. Estão constantemente assim, sem se intimidar com o que pudesse vir em suas vidas. Tem os braços um do outro e essa é, para eles, a cerca perfeita contra tudo que os pudesse atingir.
 Ao entrar em casa, Roberta dá de cara com Alice. A menina está no sofá da sala com uma revista em mãos e a amiga resolve ir até lá. Com certa ou grande vontade de ser solidária com Alice, por tudo que havia acontecido com Pedro, Roberta tem uma expressão de pena ao se aproximar dela.
-Tudo bem?
-Oi Roberta. Cadê o Diego?
-Ele me deixou e foi pra casa, mas... –Ela se senta frente a ela no sofá da sala. –Você tá bem mesmo?
-To ótima! –Alice abre um sorriso tão grande como se visse fogos de fim de ano pela primeira vez.
-E o Pedro? –Roberta insiste.
-Ele voltou, né? Que bom, porque ele poderia perder o ano todo e o Jonas...
-Alice!
-Que?
-Não precisa dar uma de forte pra cima de mim!
Por um momento ela fica sem resposta, mas revela:
-Eu não estou dando uma de forte pra você.
-Ah, não? –Roberta ironiza.
-Estou dando uma de forte pra mim... –Ela começa a não aguentar o choro contido há dias. –Quem sabe se eu insistir não acabo acreditando que já esqueci ele?
 No descer da primeira lágrima, Roberta já estava abraçada a ela, como se faz uma irmã, mesmo que não de sangue, mas uma irmã que o destino deu. Irmã dessas que fazem de tudo pra te chatear, mas que não querem que você realmente sofra.
-Olha, tudo vai dar certo. Agora larga essa revista e vamos dormir que amanhã a gente vai ter um domingo lindo pra aproveitar!
 E a alegria sempre contagiante de Roberta retira a patricinha do seu buraco negro. Estão em menos de cinco minutos sorrindo sem motivo e crendo outra vez que os raios do sol são filhotes de esperança. Basta nos tocar para se instalar em nós e crescer de forma desordenada.
 Eles aproveitam todo o domingo antes que chegue a tão temida segunda, com suas novas regras e suas câmeras, além dos segredos do quarto 16. Passam todo o dia tocando, cantando, namorando e curtindo a preguiça na praia. Claro, que somente no ensaio ficaram realmente todos juntos, pois não havia clima, nem ao menos para rolar uma simples pergunta, pois tudo já acertava Alice, que estava toda forte por fora, ao mesmo tempo que toda frágil por dentro.
 Quando o fim de semana termina, todos retornam a uma nova semana de ditadura no Elite Way. Pedro consegue rapidamente resolver sua situação com o “Sr. D” que, apesar de tudo, ainda tinha ordens de Jonas para aceitá-lo. Coisa que Bartolomeu já tinha ajeitado para ele. O garoto percebe depressa as mudanças do lugar e acredita que tudo será diferente agora que tem dinheiro, não leva nem mesmo as regras em consideração, fica como se fossem nada. Crendo que tudo pode ser resolvido de agora em diante com a ajuda desse “detalhe” chamado dinheiro.
 Na cantina, Diego chega e não encontra Roberta, com umas poucas olhadas enquanto pega um suco, a vê na mesa com alunos do primeiro ano. O jeito como gesticulam parecem discutir sobre algum assunto muito importante.
 Ele caminha até outra mesa e se senta sozinho. Assim que pode, faz um sinal com para ela, que retorna um sorriso e faz um “Oi” com a mão. Em segundos após isso vem até ele e senta ao seu lado.
-O que você tava fazendo com a galera do primeiro? –Ele fica curioso.
-A gente vai armar um protesto, queremos acabar com o “Sr. D” e trazer o Jonas de volta! Não é demais?
 Diego parece assustar-se com a empolgação da namorada, mas antes que consiga falar, os outros chegam.
-Do que falam?
-Vai ter guerra, Tomás! –Roberta responde com vontade.
-Que? –Carla se assusta, mas ao contrário de Alice, Pedro e Tomás, começa a questionar. –Como assim Roberta? Que você vai fazer?
-Você vai ver agora!
 Nesse momento ela se levanta e sobe em cima da mesa onde estão.
-Atenção, todos! Atenção aqui! Eu tenho algo pra falar pra vocês.
 E toda a atenção da cantina se volta para Roberta que começa a falar em voz alta fazendo com que todos os alunos se amontoem em sua volta.
-A ditadura militar acabou e não podemos deixar que volte! Cadê o respeito! Cadê a liberdade de pensamento e a privacidade! Eu não vou aguentar o que estão fazendo, vocês vão?
-Roberta! Os monitores vão ouvir! –Diego a repreende
-Mas é pra ouvir mesmo... –Ela lhe diz em particular e volta aos outros. –Eu tenho uma pergunta: Vocês estão comigo ou preferem continuar fazendo exercícios de madrugada? Preferem ter câmeras te olhando fazer absolutamente tudo? Preferem a submissão ou vão fazer como eu?
-E o que você pode fazer? –Vitória a olha com desdém.
-Sozinha... Bom, sozinha eu não consigo muito, mas se todos ajudarem a gente consegue!
-Diz isso porque a sua mãe não liga pro que você faz! –Um dos garotos do terceiro ano se manifesta. –Meu pai me arrancaria o couro se eu fizesse isso!
-É verdade, minha mãe não liga mesmo, mas diferente dos pais de vocês que estão morrendo de medo do comandante, ela não tem e sabe que criou uma filha corajosa. Ninguém aqui precisa ter medo de gritar que quer liberdade! Temos esse direito! Mostre aos pais de vocês que a coragem que eles não têm para enfrentá-lo, vocês tem! Ou são um bando de fracos?
 E antes que ela acabe o discurso, Diego se afasta com jeito não muito contente.

Comentários

  1. Gente tenho avisos:
    Vou abrir uma nova enquete para ver se esse horário de sexta, sabado e domingo às 10 e meia tá bom ou ruim. Por favor votem ;)
    Ah e vou colocar umas ideias novas q tive nos próximos capítulos, não sei em quais ainda, não se assustem, rs... Acho q vai ficar bem legal.
    Beijo e obrigada ;*

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  2. gostei bastante, to curiosa, bjs

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  3. muito legal ta otima a novela ate começando a ficar melhor q a da tv
    parabens pela web novela e continue nos surpreendendo que vc tem muito talento e estou com vc pra boury le viu

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  4. Tinha que ter maas romanse, mas ta muito bom
    e ta demorando muito pra posta as outras webs
    nao podia postar rapido?

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  5. Nooossa! que cap surpreendente!! amei. (Scheila)

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  6. Olá, estou amando a web novela! Mas acho q vc poderia postar mais cedo né?!

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  7. 10 e meia é tarde o.0?
    Bom, eu tenho problema com horário, mas q horas seria cedo?
    comentem aí o jeito como preferem q eu poste, dependendo eu faço

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  8. Porque vc nao faz uma enquete com os melhores horário q vc pode postar?! Ai o pessoal pode votar!

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  9. Aline pra mim é bom quando vc posta quando pode!

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  10. aline eu acho que 22:30 tá bom e quem é que tá no quarto 16 hem curiosa e esse capítulo estava muito legal

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  11. to amando mais acho que você devia fazer a Roberta é o Diego terminarem é só uma dica tá e posta mais cedo

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