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Cap 76- Assanhadinho


 E a presença ou a falta, a gente nunca entende. Quando temos, não percebemos ter, mas quando não temos, queremos ter de novo e vemos como era bom aquilo que a gente nem reparava que tinha.
 Muitas vezes a diferença é que não importa o quanto a gente deseje obter velhas lembranças do ontem, ele continuará pertencendo ao ontem e no amanhã manda não só o desejo, mas o orgulho que, dependendo do tamanho, passa na frente feito um trator.
Todos aqueles dias, desde o cruzeiro, Alice não havia saído de casa. Recusava todos os convites dos amigos e se mantinha quieta com seus pensamentos, mas nesses últimos dias havia um reflexo irradiando dela que nada apagaria. Estava se dedicando a uma coisa boa, se dedicando a ela mesma e àquilo que lhe fazia bem. Havia deixado de chorar e de sentir pena de si mesma.
 Hoje então havia sido dia de esmaltes e batons, dia de salão de beleza e futilidades no shopping. Era um dia de mulher, daqueles que ela tanto sentia falta. Era o dia em que até um cão latindo a faria sorrir, como uma modelo em um concurso de miss. Não importava os motivos, ela parafusaria o sorriso na cara e sairia nas ruas com ele marcando os olhares de todos. Porque se for pra sofrer, que seja de salto alto e maquiagem.
 Assim, que em seu quarto, ela guarda as sacolas de compras, sente uma grande vontade de experimentar uma blusa outra vez.
-Ai, essa é linda. –Ela olha para a roupa e decide trocar.
 Corre até o espelho que tem na parede, quase do seu tamanho, mas ao firmar a blusa sobre o corpo vê algo no espelho que retira seu sorriso. O rosto de Pedro refletido faz com que ela feche os olhos.
-Para de sonhar, Alice.
-Não é sonho...
 A voz dele se aproximando faz do seu coração uma máquina de lavar, que mistura tudo dentro dela de modo louco e despreparado.
-Eu tava morrendo de saudade... –Ele continua. –Eu vim pra te contar tudo.
 Pedro caminha até ela com um sorriso de quem sente aquela falta impossível de demonstrar de outro modo, mas ela nada diz. Fica parada frente a ele, segurando apertando a tal blusa contra o peito com os olhos parados de tão surpresos.
 Pedro segura seus ombros e ela vira a cabeça para olhar aquelas mãos que a estavam segurando.
-Alice, eu estive em lugares que você nem imagina...
-Eu não quero saber... –Ela é muito tranquila.
-Eu sei que você ficou bolada comigo por eu sair sem...
-Bolada? É assim que você acha que eu fiquei?
-Eu fiz isso pelo meu futuro, pelo nosso, pra ganhar uma grana, você sabe que eu não vivo nesse luxo de vocês, eu...
-Vai embora.
-Você nem vai me ouvir? Eu não me aguentava de vontade de te ver!
 Alice sorri irônica.
-Ai, ai... –Ela sai da frente dele e caminha. –Acho que vou experimentar minha blusinha no banheiro, essa cor é linda não acha? É um azul clarinho, delicado...
 E vai entrando no banheiro, deixando Pedro ali parado e confuso.
-Alice! Alice! –Ele grita.
-Ah, e é melhor ficar calado se não quiser que meu pai ouça sua voz. Acredito que ele não esteja com saudade nenhuma.
-Tá bom, se você não falar comigo agora eu vou ficar aqui e te esperar.
-Desculpa, mas eu tenho hora no salão, mas pode ficar aí, eu vou dormir na casa de uma amiga mesmo. Tiauzinho. –E tranca a porta.
 As etapas estavam cumpridas e ele estava de volta mais seguro, mais firme, com uma conta corrente mais gorda e um jeito de quem não se arrependia de nada. Pedro estava diferente, mas ainda continuava um garoto. Coisas acontecem, mas nem tudo muda.
 Assim que começa a escurecer, eles deixam a piscina do clube, e voltam com uma lanterna em mãos para a casa que Diego havia reservado para os dois.
-Porque a gente voltou? Tá muito escuro.
-Eu só quero buscar uma coisa e acho que você não vai querer que eu esqueça.
-Meu diário! –Ela exclama ao vê-lo retirar o pequeno caderno da gaveta de um criado.
-Foi pra me deixar louco não foi? –Ele vai se aproximando dela.
-Que isso, Diego? –Ela vê uma luz de um cômodo adiante e vai até ela, deixando o namorado de bico no vento.
 Há um colchão coberto por uma colcha vermelha e muitas almofadas coloridas ao redor. Um lampião aceso ao lado dava um toque de luz àquele lugar escuro.
-O que é isso?
-É um lugarzinho pra gente. –Ele faz cara de inocente e ela de ironia.
-Pra gente fazer o que?
-Pra gente fazer uma coisa que eu gostei muito de fazer... –Ele retorna a proximidade.
-Ah, você gostou de fazer, foi?
-Adorei...
-É?
-Cada segundo...
-E... –Ela brinca. –O isso que você...
-O que eu li, me deixou completamente louco.
 Roberta ri com a resposta e depois abaixa os olhos. Diego continua.
-Você colocou tudo que sentiu?
-Claro. Porque eu mentiria?...
-Foi uma pergunta idiota.
-E então porque fez? –Ela ri.
 Diego olha para ela alguns segundos antes de responder. Leva os braços em torno dela e aperta um beijo no canto de sua boca.
-Porque eu queria ouvir. Cada detalhe desse diário foi me levando àquele dia de novo, quando a gente tava tão junto, mas tão junto. –Ela a aperta.
-Me disseram que eu não devia ter te mostrado...
-Quem disse?
-A Alice. Disse que os namorados não devem saber desses segredos...
-Por quê? –Ele afasta a cabeça.
-Porque, segundo ela, perde a graça do mistério...
-Hum... Boba...
-Eu?
-Ela... Porque não sabe que você continua sendo o maior mistério da minha vida. Me deu uma vontade louca de te encontrar e te encher de beijos. Cada detalhe que eu lia, parecia que eu podia sentir, sabe?
-Sei... –Ela faz um jeito meio bobo, mostrando uma certa timidez que ele entendia bem.
 Vindo dela, aquilo era raridade, mas Diego gostava de ver como essa intimidade entre eles era única e capaz de dar esse ar melindroso aos gestos de Roberta. Tocá-la às vezes, era para ele como segurar uma porcelana fina, outras era como brigar com uma fera. Mas era disso que ele gostava, de ter essa menina e essa mulher sempre juntas. Uma vontade de niná-la ao passo que seria devorado por ela.
-Deixa eu te beijar?
-E desde quando você pede?
 Diego passa a mão atrás da nuca dela e traz seu rosto perto, onde diz em seu ouvido:
-É que eu quero te beijar completamente.
 Roberta malicia a situação assim como Diego, que vai abaixando até o colchão levando-a junto, grudada em sua boca.
 Não que não soubesse o que ele queria, mas ela ia se ajoelhando sobre o macio do colchão e deitando do lado de Diego sem largar seu beijo. As mãos dele passeavam por sua cintura, invadindo sua blusa devagar.
 Diego brinca com a maciez da pele dela e com as curvas do seu corpo enquanto que a beija sem tempo para parar.
-Mas não tem perigo? –Ela se desagarra depressa ao pensar.
-Estamos sozinhos... –Ele mal responde indo direto ao seu pescoço e descendo por seus ombros, despreocupado.
-Diego... –Ela diz mansa e risonha. –A gente não pode dormir aqui...
-Não? –Ele levanta o rosto pidão.
-Nossos pais são muito chatos com isso, não lembra? ... Quer dizer, o seu pai e o Franco, porque minha mãe...
-Ah, só um pouquinho vai? –Diego vai carimbando de leve em seu rosto a marca da boca faminta.
-E onde vamos parar nesse pouquinho?
-Espero que em muitos lugares... -Ele acrescenta.
-Hum... –Ela começa a se perder nos carinhos.
 O vento entra pela janela e o balançar das árvores é constante. Um vento forte entra pela janela e faz um assovio grave e estranho.
 Com a cabeça no braço esquerdo dele, Roberta é embalada em um transe completo, mas abre os olhos inevitavelmente com o barulho sinistro.
-Que foi? –Diego segura o rosto dela com o polegar próximo à sua boca e a deslizar por ela.
-A gente tá completamente sozinhos nesse clube?
-Nessa parte do clube, sim... Completamente... –Ele não para um segundo de induzir a algo.
 Diego faz com a voz, com o olhar e com todos os gestos um ambiente que a cega e que a coloca somente na percepção do que ele faz. Não permite que ela pense... E olha que a rebelde está fazendo um grande esforço para isso.
-Então é melhor que a gente não demore... –Ela o olha, séria.
-Jura? Achei que você gostasse que fosse bem demorado...
-Ei! Você tá muito assanhadinho, sabia? –Ela implica, adorando aquele seu jeito, de quem a deseja.
-Acho que eu não soube me explicar direito...
-O que?
-Eu sou louco por você! Completamente louco...
 Roberta vai mordendo as impressões estranhas e cedendo aos olhos dele, que parecem despi-la de tão profundo que olha. Como se vesse tudo que ela sente e tudo que ela é e talvez fosse realmente assim.
-Não se preocupe... –Ele beija a mão de Roberta e joga em seu pescoço, virando por cima dela. –Deixa em minhas mãos... Prometo que cuido bem...



Comentários

  1. que lindo... amei roberta e diego in love

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  2. Nossa Ameiii posta o resto logo vai pfv??

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  3. Posta logo....Amei,Amei,Amei esse capítulo!!!Parábens vc escreve muito bem

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  4. MORRIIIIII lindo esse capitulo posta o 77 por favor eu te emploro!!!!!! <3 <3 <3 <3 AMEI AMEI AMEI
    (bjs CLARA)

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  5. Nooooossa!! Arrasou Aline! (Scheila)

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  6. Linda a cena da Roberta e do Diego!Anciosa pra ler o resto desse capitulo lindo e ler o 77!Bjs...(Priscila)

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  7. aline!!quando vc vai postar o resto do 76 e o 77?? responde por favorrr

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  8. Acabei de imaginar a cena, Diego sussurrando que quer beija-la completamente...Valeu Aline! acabei de morrer aqui, ressuscitei só para dizer o quanto sua Web é maravilhosa, e que acompanha-la nos ultimos seis meses tem sido maravilhoso, espetacular, viciante e um problema para o coração...
    Darly

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  9. aline..ta maravilhoso.. quando vc vai postar o 77?

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  10. Uao,a cada capitulo que leio fico mais louca pela sua web!!!
    (bjs Julia)

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  11. Quando você vai postar o cap.77?
    Super ansiosa por mais um ÓTIMO capítulo.
    Cada cap. mais uma emoção...Parabéns!!!

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  12. Aline, não era bom voocê fazer um episódio ..
    em que a Roberta e o diego tão no maior Love,
    o Franco , Eva/Alice pegam eles ?

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  13. Muito bom , Maravilhoso .. Quando voocê posta o 77 . Muita emoçãoo !

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  14. Você é ótima no que faz!Corre atrás dos seus sonhos sempre!
    Um Beijo!!!



    Jessica Barbosa

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