Cap 74- Declaração de Amor

 Roberta se apronta, coloca um short e uma regata branca. Muitas pulseiras e anéis metálicos não faltam, além de uns óculos escuros para aquela manhã tão agradável e calorosa.

 Ela pega a bolsa e segue com destino ao endereço descrito por Diego. Está ansiosa por descobrir o que ele tem a lhe dizer. Tantas coisas passam por sua mente que nem sabe como reagir, não sabe se fica feliz ou tensa por estar indo encontrá-lo.

 O táxi a deixa bem na porta de um clube onde já havia ido com Diego antes. Era um lugar muito bonito onde estiveram umas duas vezes.

 Ao entrar, Roberta percebe que já era esperada. Um empregado mostra a ela a direção pela qual encontraria Diego.

 Ela passa por algumas pessoas perto da piscina e por outras que passeavam pela grama aparada, todas vão ficando para trás até que ela se vê sozinha, onde bem a frente, encontra um jardim com uma fonte ao meio, por onde jorrava água lentamente sobre algumas carpas coloridas. Roberta para um pouco e molha os dedos naquela límpida imagem. Retira os óculos para observar por alguns segundos o nadar daqueles peixes voltando em seguida a visão para o que está ao seu redor. Há pequenos arbustos amarelos que formam um círculo em volta e abre um caminho de pedras para um local mais afastado. Era por ali que haviam lhe avisado para seguir.

 Roberta vai admirando o lugar enquanto caminha. As árvores à sua volta parecem cúmplices silenciosas e nem mesmo o vento se manifesta. Está fresco e suave ao mesmo tempo e ela vai detalhando com os pés as pedras de brita retangular que a leva por fim a uma casa grande e vazia. Ela para bem à frente, o lugar daria para fazer uma boa festa ou uma reunião com amigos.

 As telhas, portas e janelas fazem com que ela aparente uma chácara de imagem rústica e acolhedora.

-Diego! –Ela o chama.

 Ergue a cabeça para ver através do vidro da janela de madeira e encontra um bilhete nela preso.

“Eu sei que o caminho que não te ensinam, você mesma faz...”

Diego

 Roberta sorri com o que lê. Coloca o bilhete na bolsa e dá a volta procurando alguma entrada. A casa rodeada por uma varanda possui uma porta do lado direito e a rebelde não demora a encontrar.

Roberta gira a maçaneta depressa e entra sem ao menos pensar em não fazer. Não havia medo algum em seu coração, mas havia uma imensa confiança em Diego.

 Está tudo escuro aí dentro e antes que ela sequer procure o interruptor, uma luz se acende na parede e uma canção começa a tocar. Ela olha para os lados, nos poucos segundos em que consegue, mas não vê Diego, o lugar ainda está muito pouco iluminado e somente na parede uma tela projeta as primeiras imagens que exibem um pouco de luz e que tiram sua concentração a partir de agora e para um tempo indefinido deste dia em diante.

  A música a tocar, ela se recorda bem.

- “Incondicional” -Roberta diz a si mesma.

 A letra conhecida, só de lembrar já deixa suas pernas bambas. Roberta fica de olhos fixos, vivos e ternos nas primeiras letras que aparecem ao som dessa canção:

“Não se assuste amor, Eu só quero te dizer algumas coisas sobre você e eu.”

 Ela sorri, de um jeito tão bonito e tão distraído que nem percebe mais nada.

 Conforme a música toca, algumas fotos dos momentos vividos por Diego e ela vão passando. Fotos que fazem aquele coração, antes tenso, ficar leve e ir se desfazendo dos temores para reviver tudo aquilo que havia ocorrido até então. Imagens do namoro, dos primeiros beijos e dos encontros mais intensos.  Junto delas vem palavras dele, de Diego, que ainda não apareceu.

 “Quando o seu corpo fica junto do meu, parece que capturei a felicidade para sempre..."

 “Depois que descobri o gosto da sua boca, eu não paro de ter sede de você!”

 A música segue, aumentando a beleza do clipe que era também a única luz do lugar. As fotos continuam passando juntamente com as frases, que seguiam uma doçura e uma firmeza que só Diego sabia juntar.

 “Eu achei que podia suportar muita coisa nessa vida, mas descobri que era só ver uma lágrima cair dos seus olhos que meu mundo inteiro caía junto.”

 Roberta leva a mão ao queixo e segura o olhar que começava a querer apresentar problemas de vazamento. O sorriso pasmo na tela acompanha a passada com o braço em volta de si mesma, com uma concentração jamais vista nela.

“E quando eu senti que você era minha, pronto, eu entendi o que dizem... Aquilo de encontrar o que viver tem de bom.”

 E ela vai tentando se conter com as fotos dos abraços, dos beijos escondidos, dos carinhos... Está tudo à sua frente, como se ela pudesse viver tudo de novo enquanto junto ao que Diego dizia a vida retornava à mente como um filme. Roberta sonha e mesmo sem compreender o motivo de tudo isso, não se importa, afinal, para receber um presente não há data, não é mesmo?

 “Porque os seus olhos me desequilibram, o seu sorriso me arrepia por dentro e seu beijo faz o meu corpo inteiro ferver...”

“Porque você é linda, tão linda... De todas as formas que alguém consegue ser.”

“É a pessoa que eu cuido e que cuida de mim... É a garota que me faz sorrir do nada, que mexe comigo e sempre me deixa tonto.”

 Diego estando no canto direito, no local mais escuro, a observa sorrindo, sem que possa ser notado. O jeito que tem é de quem sente não estar doando nem 1% do que deseja, do que realmente sentia que deveria fazer para ela.

 Tudo o que diz não é diferente do que sente, ao contrário, é aquela parte que a gente às vezes precisa estudar dentro da gente pra encontrar a tradução, pra formular a frase, para montar o sentimento, que de tão abstrato e complexo, se torna em nós uma questão de fé. Definir o que sente para você mesmo, crer, apostar e provar que existe. Para os outros se convier e para você todos os dias da sua vida.

 “Porque fazer amor com você é como tocar o céu. Eu vou para um lugar do universo que só tem você e eu”...

“Me agarrar em você é a coisa mais gostosa que eu já senti. Eu vou para um lugar do universo que só tem nós dois.”

 “E quanto mais o tempo passa, mais eu sinto esse Amor aumentar... Mesmo quando a gente brigava eu sabia que tínhamos algo para viver...”
“Eu soube disso bem antes de conseguir que você aceitasse os meus braços.”

 A canção continua e o escuro prossegue na melodia com essa única luz, assim como a atenção de Roberta que levanta os olhos, disfarça a vontade de externar o que por dentro estava lhe causando uma taquicardia e uma sensação de que se não conseguiria se mover mais.

“Sei que você percebe, que quando estamos juntos, eu não consigo disfarçar esse desejo de trazer você sempre mais pra mim...”

 Roberta já não se contém e morde a boca quando uma lágrima sai junto com um riso.
  A música está acabando e essa última parte do clipe, Diego não aguenta só assistir. Surge ao lado dela falando as últimas frases, palavra por palavra mirando os seus olhos.

-Minha roqueira independente, engraçada e sincera... –Ele vem caminhando até Roberta com as notas ainda pairando no ar. –Eu sei que eu quase te perdi e que brincamos demais antes de arriscar... Mas como eu te disse, eu sabia que a gente tinha algo pra viver...

 Quando estão quase frente a frente, Roberta não consegue esperar o sorriso dele se aproximar do seu e arrisca um passo que a joga em um abraço longo e apertado. Os dois se iluminam quando os dentes teimam em aparecer e os olhos em se apertar, tem na pele uma emoção indescritível.

Diego a segura nos braços sem pensar em soltar, beija os ombros dela, o pescoço e o rosto antes de encontrar a boca. Boca esta, que quente e macia, se permite abrir sobre os desejos de um beijo tão úmido e tão lento que parece nunca acabar.
 É a vontade de entrar no outro ao mesmo tempo que o trás para dentro, um jeito delicioso de sentir arder o sangue e fraquejar os músculos. 
 Encostam-se revezando entre a delicadeza e a força. Uma disputa entre o que é concreto e o que é alma, entre aquilo que as pessoas veem e aquilo que elas sentem...

 Assim que o ar pede passagem, Diego sente aqueles lábios se desprenderem dos seus, mas o gosto dela continua na boca, assim como o perfume e o contorno do corpo de Roberta, que ainda parece impregnado ao seu.
 Leva os dedos abaixo do olhar risonho dela, retira admirado, a última lágrima fujona que restava. Ao beijar sua mão, Roberta vê que Diego a chama sem usar palavra nenhuma e sem nenhuma resistência,  segue para um novo lugar da grande casa.


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