Cap 101 - Pra toda a vida...

Roberta quer acreditar nisso, mas não é tão fácil como as palavras fazem parecer.

-Não vai dar pra esquecer. –Diz, soltando a mão dele.

-Mas não é preciso esquecer. Se a gente se empenhar nos dias felizes que virão, porque eu SEI que virão, as lembranças tristes vão perder o espaço.

Ela segura os braços e dá um passo para trás.

-Não quero que sofra. Nem você, nem a Nina. –Ela olha para o chão e começa a franzir a testa, pensativa. –Eu sou um problema, Diego. Seu pai, o meu pai, o Franco, a Pilar, a Marina, a Patrícia... Sempre tem alguém com alguma coisa contra mim. Talvez eu seja a fonte de todos os problemas.

-Não é verdade. –Ele torna a se aproximar. –O Caio e o irmão dele tinham um problema comigo, não com você!

-Mas o seu pai nunca me aceitou como sua namorada. O meu próprio pai não confia em mim! Assim como o Franco fazia de tudo pra minha mãe me por “rédeas”, como ele mesmo dizia!

-E você jura que não entende o porquê disso? –Diego junta as sobrancelhas, estranhando e ela ergue os olhos, intrigada.

-Não! Você entende?

-Roberta, você não é o que as pessoas esperam.

-Não, né?...

-Não... –Ele sorri, sereno. –Você tem uma personalidade que não se vê em todo mundo. Você não finge que gosta, não tenta ser do jeito que as pessoas querem que seja. Você é o que é, e que se dane o resto. E nem todo mundo está acostumado com isso. Você é muito especial. E quando se é assim, os outros se sentem ameaçados. Porque você tem uma luz muito forte... –Diego passa uma mexa do cabelo dela para trás da orelha. –Você atrai olhares. E não só por que é linda de morrer... mas porque também é uma pessoa muito rara de se encontrar.

-Mas...

-Mas nada! –Ele ergue o indicador. –Eu te conheço tão bem quanto você me conhece... Roberta, nós só tivemos um tempo de azar, mas eu sei que já acabou.

Ela o olha fixamente, franzindo a testa de modo cético.

-Como você pode saber isso?

-Porque eu sinto. Acho que foi como um curso intensivo da vida, pra testar se somos capazes e merecedores da felicidade.

-Se é como diz, a vida é muito filha da mãe! –Ela cruza os braços, irritada. –E você... bem... não tem medo do veredito amanhã?

-Não, não tenho. Meu único medo se foi quando encontrei a Nina e trouxe de volta pra você. Se vocês estão bem, eu estou bem.

Roberta não consegue dizer nada, então o encara sem conseguir se mover. Diego esboça um ligeiro sorriso e com cautela acaricia o rosto dela, como alguém que tenta domar um leão.

-Eu sinto muita a sua falta.

Ela o encara, aflita com as possibilidades que tomam conta de sua mente.

-Eu também... 

Diego vai devagar, olhando os lábios dela, tão vermelhos e tão trêmulos. Percebe também que suas pernas estão rígidas, e seu peito parece guardar uma bomba relógio.

-Se fecharmos os olhos agora... –Ele sussurra, encostando a testa na dela. –...podemos imaginar que nunca saímos daqui.

Roberta toca o rosto dele e fecha os olhos.

-Por muito tempo eu fiz isso... Fazia a verdade parecer um engano na minha cabeça e assim conseguia sentir... sabe... uma ilusão de que tudo estava bem. Isso me trazia alguma paz, mesmo que falsa.

O silêncio dura poucos instantes enquanto sentem a respiração um do outro aquecer seus rostos.

-A gente pode se perdoar, Roberta? –O coração dela salta ao ouvir. –... Eu posso acreditar que ainda tem jeito?

Ao se afastar um pouco e encará-lo, ela tem uma leve hesitação. Não consegue responder, então apenas o deixa se aproximar de sua boca. Quando o choque inicial da sensação dos lábios dele é quase sentido, ela se afasta rapidamente. Diego fica tonto. Sente que quase tocou o céu por um segundo e voltou a cair violentamente no chão. Seu olhar para ela é desorientado. Fica buscando em seu rosto alguma explicação. Mas Roberta levanta o indicador, pensativa.

-Ouve...

Diego apura os ouvidos, ainda confuso, e não entende. Então escuta um barulho forte de trovão, seguido pelo som de pesadas gotas caindo sobre a casa.

-Chuva... –Diz, boquiaberto, olhando para a porta de vidro.

Roberta se vira e corre até a porta, atravessando-a até gramado. Mas que inutilidade é pensar em oportunidades, não é? Ela pensa. As coincidências são raras, a felicidade é muito rara! Sem poder crer no que está acontecendo, ela abre os braços e olha para o céu. Que agradável presente. Inacreditável. E se deixa lavar por um sorriso, por um minuto de fé na vida. Quando se vira, Diego está ali também, completamente em êxtase, ensopado, exibindo um sorriso afetado. Mas ele transmite uma esperança tão grande que ela tem certeza de que compartilham do mesmo pensamento.

-Água... –Ela ri, fascinada, quando chega até ele. A chuva logo se torna quase uma tempestade. Os olhos vão embaçando e suas roupas ficam cada vez mais encharcadas.

Diego é rápido ao segurar o rosto dela nas mãos, beijando seu sorriso antes que Roberta pudesse evitar. São os segundos mais preciosos que ele experimenta nos últimos dias. Um beijo roubado na chuva. Quando descola os lábios dos dela e se prepara para ver sua reação, encontra a surpresa ainda estampada no rosto coberto por fios de cabelo escorridos pelas bochechas. Ela parece em choque e isso o deixa temeroso, até que, com uma das mãos, Roberta o agarra pela camisa com e o beija com vontade. A maciez dos lábios dele a faz estremecer. As lágrimas de alívio e saudade escorrem por seu rosto e são camufladas pela chuva gelada. Diego a segura e a aperta mais forte ainda, então os lábios dela se afastam e sua língua acaricia a dela com ternura e desejo.

O céu escuro, da tarde terminada, lava a terra da sujeira humana, briga com as folhas das árvores, violenta o mar e machuca as frágeis plantinhas nascentes. E em meio a tudo isso, eles são banhados, como em um batismo da natureza. Novos em um beijo, novos em um abraço, novos através da capacidade que a água tem de limpar e destruir. E por dentro, eles já sentem a luz. Algo que estava sujo, agora já brilha intensamente.

Quando eles voltam correndo para a sala, a chuva já está pior, muito mais forte, e a escuridão é quase total. Não tem luz na casa. O beijo que ainda acontece é tão intenso e profundo que parece levar Roberta embora da realidade. Diego é seu único lar, o único lugar em que pode fechar os olhos sem medo. E ele a agarra tão forte que parece que vai quebrar seus ossos. Tem necessidade de sentir que é verdade o que está acontecendo, que a tem de novo, pressionada em seu corpo, tão doce, tão quente e faminta como antes. E quando os músculos ficam tensos, ele inspira fundo pelo nariz, beijando-a com tanta ferocidade que os pés dela se erguem do chão.

Eles se jogam no sofá. Roberta o abraça, ficando por cima dele, que se inclina de costas nas almofadas. Logo ela enfia a mão quente por baixo de sua blusa, formando um contraste com a pele gelada pela chuva, e arranca a roupa dele. Não pode mais esperar, não consegue conter todos os sentimentos que segurou durante todo esse tempo e que agora parecem sair dela como lavas de um vulcão. Tem saudade, tem vontade, tem sentimentos tão íntimos e tão fortes que suas entranhas ardem. E Diego vai perdendo o controle dos impulsos, não tem mais calma, nem ponderação. Tudo o que sente por ela, tanto física quanto emocionalmente, se juntam em um só núcleo dentro dele e o empurram contra aquele corpo que se aperta ao seu. Linda, mais linda do que pode suportar. Quer tê-la eternamente como parte de si, eternamente como sua carne.

As roupas molhadas vão caindo no chão da sala, uma a uma, até que não há nenhum tecido entre eles. Diego se vira sobre ela, pressionando-a no colchão sem tirar a boca da sua, e Roberta deixa o joelho cair para o lado, colocando a perna em seus quadris. Vai sentindo a língua aquecida dele, o toque da pele, os músculos e o cheiro único e excitante que parece alimentar seus sonhos. É o seu homem, o seu amor, a sua paz constante no mundo.

Quando Diego se agarra ao braço do sofá com uma mão, Roberta o envolve com os braços.

-Olha pra mim... –Ele pede e quando ela olha, ele faz um movimento rápido, indo para dentro dela, que cerra os olhos e abafa um grito.

Quando abre os olhos, encontra de novo os dele. E sem deixar o contato, ele continua. Vai devagar no início, e durante repetidas vezes, o corpo dela pulsa e agoniza. Ele vai penetrando com um desejo imenso e quando a beija outra vez, toda a intensidade aumenta. Logo ele começa a oscilar os movimentos de lento e terno, para rápido e devastador. E Roberta arqueia mais a cada minuto, se mexendo e o enlouquece com beijos, mordidas e carinhos indiscretos. A tensão, o nervosismo e o medo vão se esvaindo do corpo deles, como a água evaporando com o calor do sol. O prazer não tem consciência, ele é o que é. O prazer é liberdade. Eles são livres outra vez.

Cada nervo dela se concentra nos tremores de suas pernas e os dedos dos pés se contraem junto com seu ventre. Mas Diego não para de investir. Não para nem quando ela aperta os olhos com força e geme alto. Ele continua, continua até o suor pingar de sua testa, até os nós de seus dedos ficarem brancos de tanto apertar o braço do sofá. Os gemidos roucos de sua garganta ficam audíveis e quando ela sente outra onda de tremores e crava as unhas na pele dele, Diego prende a respiração, a esmaga em um abraço e dá sua última investida, forte e profunda.

Uma dormência completa se instala neles. Os corações estão como tambores. Há motivos para crer que estão sobre nuvens macias, delirando...

Logo, esgotados, eles deixam seus corpos repousarem inertes sobre o sofá. O peito de Diego sobe e desce com a respiração rápida. Pela janela a chuva ainda cai pesadamente, escorrendo pelos vidros em ondas cristalinas, enquanto os trovões e raios ficam mais fortes. Roberta se aninha ao peito dele e Diego a abraça apertado, beijando sua testa demoradamente. Em instantes, o ar de seus pulmões começa a sair com menos intensidade e ela suspira fundo, com os olhos pesados, dá um beijo na bochecha dele e acaricia seu queixo.

Ele a encara. Um canto de sua boca sobe quando seu nariz encosta no dela. Que olhos lindos, ele gostaria de dizer, mas ela já entendeu e sorri.

-Pra toda a vida? –Diego pergunta.

-Pra toda a vida...