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Cap 100 - Voltar pra casa

-Não me ouviu? Venha logo! –O policial o segurou pelo braço.
-Não! Só um minuto! Por favor!
Mas o homem começa a leva-lo em meio à multidão.
Roberta percebe, ergue os olhos molhados e dá um passo até ele. Mas não chega a tempo. Em instantes já está sendo levada para o outro lado pelos seguranças e policiais.

Quando todos chegam à casa de Eva e Franco, minutos depois, ficam ainda mais loucos em torno da pequena que acaba de regressar. Mas, por seus olhinhos esbugalhados, se vê que Nina não está muito a vontade com toda essa atenção.
-Vem com a dinda, meu amor! –Carla estende as mãos pela décima vez à afilhada enquanto Roberta entra na sala. Mas Nina esconde o rosto como fez durante todo o trajeto, agarrando o pescoço da mãe.
-O que há com ela, Roberta? –Alice se amontoa sobre as duas, tentando fazer a afilhada olhar para ela.
-É porque é comigo que ela quer vir, né mascotinha? –Tomás aparece por trás dos ombros de Roberta e começa a fazer palhaçadas, mas a bebê vira o rosto, resmungando.
-Tá assustando a guria com essa cara feia! –Pedro chega ao lado de Tomás. O grupo já está cobrindo as duas totalmente. Uma mistura de vozes, mãos, cabeças e olhos girando em volta delas.
-Gente, gente... –Franco chega espalhando todo mundo. –Deem um espaço, está bem? Foi uma longa viagem. E ela passou por muita coisa...
-É, o Franco tem razão! –Eva tem os olhos ainda vermelhos de tanto chorar. –E também... Acho que a Nina quer um tempinho só com a Roberta.
E assim, mesmo com alguns protestos birrentos dos padrinhos, Roberta consegue finalmente subir para o quarto com ela.
Os que sobram, ficam conversando na sala até que a campainha toca.
-Oi, Eva! –Sílvia entra acompanhada de Márcia. –Deixei os meninos em casa antes de vir. O Leo está com Diego. E a Roberta?
-Está com a Nina lá em cima.
-Não falou o caminho todo. –Alice comenta. –Parece meio fora do ar.
-E ninguém contou a ela o que está acontecendo? –Márcia se adianta.
-Não foi possível... –Fraco se debruça sobre os joelhos. –Não quis saber de nada que não tivesse a ver com a garotinha.
-Mas o Diego, ele...
-Nós sabemos. –Eva dá um sorriso compreensivo para a garota. –Acreditamos nele.
-E será que a Roberta vai acreditar também? –Tomás olha para eles com jeito duvidoso.
-Quem sabe. –Sílvia suspira. –Ela vai conhecer as duas histórias e vai ter que decidir em quem acreditar.
-Mas há testemunhas a favor do Diego, não? –Pedro pensa. –A diretora do orfanato, por exemplo?
-Sim. –Sílvia concorda. –Ela e os dois empregados do Leonel que estavam com Bridget e a viram entrar com Nina no avião.
-Então, não vai ser tão difícil! –Franco constata.
-Tudo depende das testemunhas não mentirem. E dos advogados serem bons, claro. –Ela faz uma pausa, hesitante. –O Leo me ligou, dizendo que o Diego vai voltar pra casa depois do depoimento. Mas ele está proibido de chegar perto da Roberta e da filha até tudo se resolver.
-Que absurdo! –Eva se exalta. –Ele salvou a minha neta!
Todos os olhares se voltam, arregalados, para a cantora. Tinham ouvido mesmo ela dizer “neta”?
-Que foi gente?
-Nada. –Franco ri.
-A verdade vai aparecer. –Carla tenta acender uma esperança. –O Diego vai se inocentar.
-É, e depois só nos restará torcer para que ele e a Roberta fiquem bem... –Pedro olha para os amigos, com pesar. – ...mesmo que decidam ficar separados.

***

No andar de cima, ao lado da janela com vista para o jardim, uma confortável poltrona serve de abrigo para elas. Nina, depois de um banho refrescante, deita a cabeça no peito da mãe e fica lutando para se manter acordada. Está realmente cansada da viagem, e as mãos de Roberta, que a acariciam com ternura e saudade, a deixam ainda mais sonolenta.
Os braços da mãe a envolvem em um abraço e ela sente um beijo demorado na bochecha. É bom. Consegue se lembrar bem de como era isso. De como era estar com a única pessoa que a fazia se sentir completamente segura.
-Meu bebê... –A garota sussurra a ela. –Eu te amo. Você não imagina o quanto eu te amo...
E nesse momento, parece que o tempo não passou. Mas Roberta sente um medo súbito de estar sonhando. Medo de piscar os olhos e não a ter mais nos braços. Os pensamentos ruins fazem seu sorriso sumir e seus olhos marejarem.
-Mam... –Nina, mesmo com os olhos pesados de sono, estica o bracinho para o alto, notando algo de errado. –Mamãe...
Roberta sorri. Tantas vezes sente que ela pode ler seus pensamentos. E quando sente os dedinhos dela pelo rosto, a desenhar seus olhos, nariz e boca, não resiste em agarrar e beijar aquela mãozinha inquieta.
-Me perdoa, filha... –Ela suspira. –Perdoa por não ter conseguido impedir tudo isso...
Mas Nina não parece ter o que perdoar. Está tão feliz por estar de volta. Tão feliz por saber que a mãe a quer, que a ama e que a quer. Sentia falta dos braços dela, do sorriso grande que faz os olhos de Roberta ficarem apertadinhos e engraçados. Sentia falta de ouvir a voz dela, de ganhar seus beijos e dormir em seu colo. “Está tudo bem, mamãe” ela gostaria de dizer, mas os pedidos de desculpa, junto dos carinhos, que eram mais do que poderia querer, foram levando sua consciência para os sonhos, para um lugar onde o papai sorrindo para ela. Afinal, onde ele está?
E Roberta sentiu que poderia olhar para ela o resto da tarde, absorvendo o alívio e a alegria de tê-la de volta. Porém, não consegue se esquecer da expressão de Diego no aeroporto também, como se tivesse algo muito importante a lhe contar.

***

Os dias passaram, suaves e mornos. Um após o outro, sem se demorar ou apressar. A casa dos Maldonado, assim como a dos Albuquerque, respira tranquila, mesmo a poucos dias da resolução do caso.
Roberta já depôs. Já disse tudo que havia acontecido. Nenhuma mentira, nenhuma omissão. Ouviu os advogados brigarem pela própria verdade. Eram como dois galos de briga, tendo o tribunal como ringue. Tudo o que ela não quis ouvir da mãe ou do padrasto, ou até mesmo de Leonardo, teve de ouvir deles. O advogado de acusação disse que Diego a traiu com Patrícia e que foi ele quem levou Nina. Mas a defesa disse que Diego havia sido chantageado e que não tinha culpa de nada. Ao contrário, era um herói. E nessa confusão de ideias, ela se lembra do que lhe perguntou o advogado de acusação:
“A Srta. consegue acreditar em um homem que a fez sofrer em um mês mais do que já sofreu na vida inteira?”
E pensa no que teria respondido se o advogado de Diego não tivesse interferido dizendo que a pergunta não tinha relevância.

***

Faltando um dia para o veredito, Roberta começa a sentir irritada e ansiosa. Não consegue ficar parada ou manter uma conversa normal com qualquer pessoa. Então, depois do almoço, ela avisa à Eva:
-Vou sair, mãe. A Nina já mamou e tá dormindo. Não deve acordar até eu voltar.
-Pra onde vai? Roberta?
Mas ela nem mesmo ouviu e fechou a porta com força, deixando a cantora assustada.
 Dirigiu a esmo por alguns minutos, até que sentiu uma súbita vontade de ir a um lugar aonde não ia há muito tempo. Lembranças nostálgicas começaram a rodear sua mente e a fizeram tomar a rua que a levaria a um sobradinho tranquilo e caloroso um pouco distante da agitação da cidade.
Quando chegou, já pela tardinha, os muros pareceram abraça-la. Que saudades tem de casa. Quando abriu e atravessou o gramado da frente, sentiu como se tudo pudesse ser como antes. Foi sorte ter chaves extras no porta-luvas.
Ela entrou pela porta da frente. Os móveis estavam cobertos por lençóis brancos. Deu uma volta e parou perto da escada. Teve a viva impressão de que tinha alguém na casa. Mas, antes que pudesse duvidar, a pessoa apareceu no topo.
Não houve sustos. Também, pouca coisa ainda pode assustá-los depois de tudo que passaram. Há muito tempo não veem sozinhos assim, então é um pouco estranho. Diego tem um jeito tenso e intrigado. Também tinha ouvido um barulho e imaginado que tinha alguém por ali. Mas em vez de falar com ele, Roberta simplesmente se virou e refez o caminho para a saída.
-Ei! –Ele desceu correndo as escadas e a alcançou rapidamente, agarrando-a pelo braço antes de chegar à porta. –Você não fala comigo há tanto tempo. –E fita os olhos dela, zangado. –Pode me xingar! Me bater! Mas, por favor, fala comigo! Não fica em silêncio!
Roberta se vira, com os olhos arregalados para ele, mas não responde. Então ele continua.
-Não acredita em mim, não é? Acha que eu seria capaz...
-De me trair com aquela vadia? E de roubar a Nina?
Diego se afasta, fechando a cara e erguendo o queixo. Sentia seu orgulho gritar com a violência das palavras dela.
-Então, quer dizer que nada que eu disser...
-Você não precisa dizer nada. –Ela retruca, com dureza. –Eu quis muito te espancar, Diego! Mas agora tudo que eu quero é ficar bem longe de você!
-Está me odiando assim? –As palavras dele saem rasgando a garganta de tão dolorosas.
-Você não entende, não é? Eu não quero falar com você, nem te ver, porque ainda dói! –Roberta se descontrola. –Não quero, porque quando você me ligou naquela noite, achei que nunca mais seria feliz outra vez! –Ela confessa, colocando os olhos nos dele. –Mas eu aguentei. Eu não sei como, mas aguentei! E agora você volta! Você volta e traz a Nina! E eu estou te amando como nunca!
Diego pisca, está em choque.
-Você... Você está o que?
-Eu preciso soletrar? –Ela grita. –Eu te amo, Diego! Que droga! Eu te amo de um jeito que me dá até medo! E eu não consigo duvidar de você! Porque eu conheço cada detalhe do seu coração e sei que você não seria capaz de fazer as coisas que estão te acusando de fazer!
Diego sente o peito vibrar com os batimentos acelerados e tenta se aproximar dela, mas Roberta não deixa e recua outra vez.
-Você salvou a Nina. Cumpriu a promessa que me fez, de trazê-la de volta... –Roberta engole seco. –Mas acho que... que juntos... a gente sofre demais. –Ela se decide. –Não devemos voltar, Diego. Principalmente por ela. Pra que nada desse tipo volte a acontecer.
-Não... –Ele protesta imediatamente. –Não, Roberta. –E segura o rosto dela nas mãos. –Ela precisa de nós dois juntos. E eu preciso de você. Preciso da minha filha. Preciso dessa casa. –E olha ao redor. –A gente ainda tem toda uma história pra viver aqui... 
-Mas as coisas não podem ser como antes, Diego!
-Não, não podem. –Diz, procurando segurar as mãos dela. –Mas podem ser novas.


Continua...

Comentários

  1. Lindo Aline , tão lindo quanto os outros ..

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  2. Aah... Eu to sem palavras pra escrever... Preciso dizer q o cap ta perfeito? ? Tomara q os dois voltem (=
    Parabens mais uma vez Aline *-*

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  3. Caraca Aline, vc consegue me fazer chorar com esses capitulos.. Nao demora tanto por favor? kkkkk

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  4. Ai Line . Vc sempre acaba com o meu emocional . Que capítulo mais lindo #CorandoAqui . O q vai ser de mim sem essa web ?!
    By : Raíssa

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  5. Lindo, lindo, lindo!!!! Como eu amo essa web!

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  6. AAAAAAAAH Buaaá tem um olho nas minhas lágrimas ...
    PUTZ q lindo esse cap....arrepios de ler cada palavra :) :') MUITO LINDOOO PARABÉNS..
    acho q eu preciso de mais
    Talita
    @Smi_Lita

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  7. Alineeee, cade vc mulher? to morrendo de saudades..

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  8. Poxa, tô ficando desesperada já, ansiosa pelo próximo.. Entendo que esteja com problemas Aline, espero que possa resolvê-los logo.. Saudades de ler os capítulos..

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  9. Aiiiii eu qro maiiisss amo d+ sua web posta + pf to louk de curiosidade

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  10. PELO AMOR DE DEUS, POSTA LOGO MINHA FILHA, ENFARTANDO AQUI

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  11. Aline do céu, entendo que esteja com os seus problemas.. MAS CADÊ VOCÊ? Eu entro todo dia, toda hora pra ver se vc postou.. TO INFARTANDO kkkkkk

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  12. Aline mulher já tô ficando doida aqui,cadê tu???

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  13. nossa vou morrer ressuscitar e o cap não sai logo,quase tendo um infarto de curiosidade.

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  14. que lindooooo
    posta mais
    to mto ansiosa

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  15. ALINE, APARECEEEEEEEE. JÁ QUERO O CAP. 101 , PLEEEEASE!!!

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  16. Mulher....carnaval...posta aê vai rsrs
    Mto anciosa
    Amo mto tua web <3

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