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Cap 01 (Faculdade) -A mudança


      
 Algumas pessoas acreditam -e isso faz bem a elas- que o mundo é repleto de fantasia e que coisas mágicas acontecem se você acreditar nelas. Outras, no entanto, pisam em rochas firmes e teimam em ver a vida como um calabouço de torturas.
 Não há nada de errado no realismo ou no sonho. O errado é pensarmos que só existe uma dessas coisas e que a vida não pode ser bonita mesmo feia ou alegre mesmo triste. Algumas pessoas não irão ver sentido nisso, já outras, verão tudo! É a grande diferença entre quem vive livre na fantasia ou preso na realidade...
 Ela vai escada acima, escada a baixo, sempre se esquecendo de algo.
-Roberta, você ficou louca? –Franco tenta, em vão, proibi-la de continuar a mudança. –Você acha que é fácil assim?
-Acho que você não tem nada com isso!
 O padrasto realmente não conseguiria nada, mas apela.
-Eva! –A esposa aparece do nada. –Fala pra sua filha que morar com o namorado está fora de questão!
-Eu já disse que é uma loucura, bebê, mas você sabe como ela é... –A cantora, sempre manhosa com o marido, havia há tempos, desistido de tentar convencer a filha.
 Roberta passa por eles com uma mala preta enorme e abre a porta da sala sem que a campainha tivesse tocado.
-Oi...
-Entra! –Ela conduz Diego para dentro com um selinho e uma pressa distraída.
-Escuta aqui Diego... –Franco não dá nem bom dia. –Que ideia é essa? Vocês estão achando que vão brincar de casinha?
-E quem é que vai brincar de casinha aqui?
 Roberta e Diego lado a lado, um jeito irreverente, longe de submissão.
-Eu já ia me mudar! Qual a diferença se eu vou dividir um apartamento com amigas ou com meu namorado?
-Tem muita! Você... –Franco estaca ao ter um pensamento assustador. –Por acaso você tá grávida menina?
-9 meses, não reparou?
-Roberta! –Eva quase surta.
-Olha, eu entendo que estejam preocupados... –Diego é convicto. –Mas a gente pensou muito bem e...
-Pensaram... –O homem não os leva à sério. –Vocês não pensam nada!
-A vida não lá fora não é mole! –Eva avisa.
-A gente sabe! Por isso mesmo queremos ir juntos, a gente vai cuidar um do outro. –O brilho saltando dela enquanto fala, mostra o quanto acredita no que diz.
-Vocês não passam de duas crianças irresponsáveis!
 Roberta esquece todo o resto naquela sala e se fixa em Eva.
-Mãe, você confia em mim?
-Você sabe que eu confio!
-Confia no Diego?
-Confio.
-Eva?
-Que foi? –Ela e o marido se estranham. –Eu confio nele, é um bom garoto, responsável... Além do que, conseguiu domar a Roberta como ninguém!
-Mãe!
 Diego ri e a menina nem percebe. Ainda sereno ele se vira a ela.
-E então...?
-Vamos pro apê! –Roberta segura a mão de Diego e se vira para Franco. –Sou maior de idade e esse senhor não é nada meu pra dar opinião na minha vida.
-Roberta!
 Não importa o quanto eles quisessem e gritassem, quando algo está escrito claro e vivo na mente de alguém já está também escrito no futuro dele. As portas serão fechadas e os pés irão para onde bem desejam se estiver decidido.
  Muitas coisas pendentes e toda uma vida de desistências. Tentar e tentar todo o tempo e a cada segundo mais, é só isso que cada um faz sem nunca poder repetir.
 Mesmo com um jeito emburrado, Diego consegue arrancar um sorriso dela, ainda no elevador.
-Quer ver uma coisa?
-O que? –Ela fica receosa.
-Um segredo. –Os olhos dele parecem um buraco negro a sugá-la.
-Que segredo? –O sorriso desabrocha. –Fala!
-Existe um andar em que eu nunca vi ninguém ir aqui, perguntei ao porteiro e ele me contou o segredo, mas me disse pra não dizer a ninguém.
-Ah, fala sério? –Roberta caçoa. –O Gasparzinho mora aqui agora?
-É sério mesmo, tá!
 A menina olha de rabo de olho para ele.
-Que andar que é?
-31º.
-Bora lá! –Ela aperta o número. –E o que acontece nesse andar?
-Dizem que quem entra lá não volta do mesmo jeito...
-Você não acredita nisso, né?
-Não, mas sabe o que é estranho? –Ele faz um ar de um contador de histórias. –Todas as vezes que entrei aqui ninguém nunca ia pro 31º andar e tem mais... 
 Diego continua contando até que a porta se abre.
-Chegamos! –Roberta pula no corredor. –Mas Diego... –Ela olha em volta e percebe. –Não tem nada aqui!
-Claro que tem! Olha só!
-Que é isso? –Ela se depara com um baú enorme.
-Lava lamp!
-Lâmpada de lava? –As sobrancelhas arriadas mostram a estranheza do momento.
-É... Gostou? O porteiro disse que ia deixar pra mim...
-Ah, tá... –Ei! –Ela logo acorda e coloca as mãos na cintura, intrigada. –E aquela história de andar assombrado?
-Foi só pra você mudar aquela carinha emburrada...
-Fala sério que você inventou aquilo tudo pra...?
-Pra te ver sorrir... –Ele segura o rosto tenso entre as mãos. –Pra esquecer toda história na sua casa...
-Hm...
-Que?
-Bobo... –Roberta tenta ficar séria, mas acaba se rendendo a um beijo. –Agora vamos pra casa... Eu, um abajur e duas malas...
-Gostei...
-De eu te chamar de mala?
-Do “Vamos pra casa”... –Ele envolve os braços nela. –A nossa casa!
-Tecnicamente ainda falta um pouco pra gente se mudar...
-Quando começar a faculdade, né? –O garoto, ao contrário de Roberta não parece animado.

  Eles descem e ainda conversam enquanto Diego abre a porta do apartamento.
-Imaginei que a Alice não iria mesmo voltar tão cedo...
-Por quê? –Roberta joga a mala em um canto e começa a retirar alguns objetos.
-Ela brigou com o Pedro pra poder ir nessa viagem, não lembra?
-É verdade... Mas o Pedro também, hein?!
-Dois teimosos...
 Roberta para ri com o pensamento que surge.
-Até parece que a gente pode falar né?
 Eles vão organizando o que trouxeram. Somente alguns objetos pessoais de uso diário, objetos dos quais não poderiam se esquecer. Dão um começo de uma faxina, já que desde que estiveram ali, no feriado passado, que o lugar não era limpo.
 Durante toda a manhã eles arrumam o apartamento. É o primeiro dia, então tudo parece muito mais cansativo do que realmente é. Roberta logo se joga no sofá, exausta.
-Quer água?... –Diego chega gentil.
-Não...
-Suco?
 Ela balança a cabeça negando.
-Quer alguma coisa?
 Roberta sorri e aponta o dedo em sua direção. Diego olha para trás e vê somente a janela.
-Diego!! Anda vem! Eu quero você!... –Roberta faz um bico enorme ao se agarrar ao braço dele, puxa-o para sentarem juntos e vai deitando em seu peito.
-Que foi?
-Nada, é... –Ela não disfarça o sorriso. –Eu quero ficar um pouco assim...
 O namorado sente a leveza dos cabelos se embaralhando nos dedos e o perfume de ambos já se misturando nas roupas.
-É bom...
-É...
-Posso me acostumar com isso...
 O rosto dela risonho abaixo do seu é um convite. Beijo de manhã cansativa e um colo mais roubado que pedido.
-Só a gente que não viajou pra fora do país...
-Se isso te incomoda ainda dá tempo...
-Não. –Roberta adianta. –Eu to pensando em outra coisa.
-No que?
-A Alice tá nos E.U.A, Pedro arrumou trabalho, Tomás e Carla estão fazendo shows na Europa e a gente se preparando pra faculdade e...
-Pra uma nova vida. –O garoto está contente e fita os olhos dela na mesma sintonia. –O que te preocupa?
-Que quando a gente se encontre as coisas tenham mudado...
-Nada vai mudar... –Os dedos dele no braço dela, tocam algumas notas de amparo. –A gente é uma banda e um bando... Nada vai separar a gente!
-Isso!
 Os olhares que trocam em frente ao clarão da vidraça pela manhã quente e os sorrisos à toa, perdoam alguns beijos que seriam muitas vezes vistos pelas nuvens que rodeiam o céu. As paredes e os móveis em tons levemente escurecidos pesam ao mesmo tempo em que dão espaço ao deleite. O sofá negro na sala já vai experimentando o que lhe aguarda ver, entre os beijos deles e o calor que sufocam um sobre o outro, sempre com uma sede tremenda.
-Alguém bateu! –Ela retira a boca dele com a mão.
-Ah, não... –Diego olha para a porta e volta a beijá-la outra vez.
 Fica difícil para a garota mover-se com o peso dele por cima. Não que fosse assim tão pesado, é que na realidade não faz muita questão de sair.
 Mal conseguem provar do beijo do outro e já escutam mais batidas.
-Diego! É sério...
-Achei que a gente tava livre disso agora...
-Só se a gente exterminasse meio mundo.
-É uma ideia... –Ele brinca ainda com o rosto acima do dela.
-Anda, vai lá!
-Tá booom...
 Diego atende a porta bufando estressado, mas se recupera rápido.
-Caio!
-E aê Diego? –Ele dá um abraço rápido, com meros tapinhas nas costas e já vai entrando.
 O rapaz vem exibindo musculos sob a camiseta e esbanjando um sorriso largo, parecendo também um tanto falante.
-Vim ver se tá tudo certo cara, é que... –Ele empaca ao ver Roberta sentada no sofá.
 O cabelo preso já um pouco bagunçado do namoro no sofá, uma camiseta preta e um short jeans. O rapaz examinou-a minuciosamente.


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