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Cap 69 -Big Brother Rebelde


 Enquanto na escuridão alguém se escondia bem mais feliz e curioso do que nunca, outros não sabiam mais o que fazer para desviar das câmeras que aumentavam no Elite Way, sendo instaladas enquanto eles estavam nas aulas, no almoço e nos quartos. Sempre ouviam o barulho dos homens que vinham instalar e tornar o lugar um verdadeiro “Big Brother”. Não estavam mais livres para dar as mãos nos corredores, muito menos para trocar um simples beijo, pois tudo era registrado e punido. O comandante ainda mal apresentado, já se tornou o senhor “D” na boca dos alunos, que o apelidaram assim por se achá-lo um tremendo ditador, e por assim ser, não podiam abertamente chamá-lo disso, então senhor “D” se tornava uma boa saída.
 Roberta e Diego ainda namoram quando escutam passos. Alguém de repente desce as escadas e para no meio.
-Saiam. –Rodrigo representava uma autoridade medonha que jamais esteve em seu rosto tão sombria.
Roberta e Diego se levantam e assustados tentam se explicar.
-Olha, fui eu que chamei a Roberta...
-Não, a culpa foi minha, eu que vim atrás dele porque quis. –Roberta tenta assumir a culpa.
 Os olhos de trás das caixas haviam sumido, talvez também estivesse com medo e se escondeu, ou talvez nem estivessem realmente lá e fosse somente uma ilusão da história.
-Essas velhas desculpas que vocês davam ao doutor Jonas não tem o menor efeito em mim. Anda, saiam. –Ele cruza os braços e ergue a cabeça olhando os dois por cima.
-E o que você vai fazer com a gente?
-Logo vocês vão saber, mas posso adiantar que o porão será lacrado.
-Mas...
-Não adianta tentarem nada. –Rodrigo interrompe Roberta. –Já foi decidido.
 O casal se olha e acaba por obedecer, sobem as escadas na frente do rapaz que logo os segue. A porta se fecha e como um animalzinho sorrateiro, de trás de um amontoado de coisas surge alguém que deveria sair dali o mais rápido possível.

 Todas as meninas da turma dos rebeldes se reúnem no quarto de Alice e Roberta no fim da tarde, assim como todos os meninos vão para o quarto de Diego e Tomás. Como os quartos era o único local onde não havia câmeras era o mais seguro para tratar desse imenso problema em que Jonas tinha colocado todo mundo ao deixar o colégio nas mãos desses generais aposentados.
 Um a um eles chegavam aos quartos para que não houvesse muita suspeita quando os vigilantes vissem as filmagens. Não havia mais como os meninos pularem as janelas, graças às câmeras que também haviam sido instaladas nas varandas.
-E o que a gente vai fazer? –Vitória como sempre com uma cara estressada começava a conversa.
-A gente vai dar um jeito. –Roberta anda entre as meninas espalhadas pelas camas e de pijama. –Vamos pensar em como driblar o senhor “D” lá...
-Isso aqui virou uma prisão, nem mais temos o porão! –Alice começa. –Eles lacraram tudo, colocaram trancas enormes, todos os nossos instrumentos estão lá! Fim de show e de namoro!
-Show a minha mãe pode dar um jeito, emprestando alguns instrumentos e tal, já namorar...
-E se a gente usasse o quarto 16? Depois do incêndio ele foi reformado, tá que nem o porão, dá pra usar.
 As meninas se olham e pensam na ideia dada por Márcia como uma boa saída.
-Pode ser uma boa, mas fica entre a gente então, porque se todo o colégio resolve ir namorar lá, estamos perdidas! –Alice olha para Roberta. –O que está fazendo?
 A menina com o celular em mãos digita uma mensagem.
-É pro Diego, to informando ele da nossa conversa e ele tá repassando pros meninos. –Ela lê distraída. –Ah, ele também me mandou uma dizendo que também estão conversando sobre como quebrar essas regras.
-E tiveram alguma ideia? –As meninas chegam mais perto de Roberta que some no meio delas.
-Sim, calma! Ele ainda não me mandou o que ficou decidido!

 No quarto dos meninos um alvoroço imenso vai sendo desfeito, eles partem para seus quartos sem nada muito resolvido.
-E aí Diego? –Tomás parece chateado.
-A gente vai fazer isso mesmo, vamos nos unir para acabar com essa palhaçada!
-E você acha que vai dar certo?
-Tem que dar, por enquanto a gente pode revezar no uso do quarto 16 como a minha irmã sugeriu.
-Quem diria né? –Tomás se senta na cama, pensativo.
-O que?
-Que a gente iria voltar naquele lugar... Você sabe... Marina, sequestro, incêndio.
-Isso já passou. A Marina que foi um caos na nossa vida foi embora e pelo que me falaram a vó dela tá colocando ela nos eixos. O resto é resto.
-É, mas aquele lugar continua sinistro.
-É só um quarto, Tomás... Não tem nada lá, além de ser o único lugar que sobrou além dos nossos quartos pra gente ter um pouco de sossego.
 Diego arruma a cama para deitar enquanto Tomás continua pensando, não sabe se realmente os lugares podem ficar com as marcas das coisas que se passaram neles, mas também que bobagem seria deixar de namorar por algo tão bobo.

 Logo de manhã o som estridente soa. Os garotos pulam da cama com o tremendo susto e esfregam o rosto mal acreditando ter que levantar àquela hora.
-Cara, nem são seis horas ainda! –Diego olha no relógio e nisso a voz soa no corredor, vinda dos autofalantes instalados junto com as câmeras.
 “Vocês tem exatamente 15 minutos para estarem no pátio do colégio para os exercícios matinais.”

 E a manhã passa extremamente cansativa, na hora do café todos estão doloridos e com rostos nada amigáveis.
 Roberta olha para Diego assim que acaba de comer e faz um sinal sutil com os olhos. Ninguém além dele consegue entender o que aquilo significa, mas não passam nem cinco minutos depois que ela sai e ele também vai. Ambos se encontram no jardim frente ao quarto 16.
-Porque você não entrou? –Diego já vai rapidamente abrindo a porta e Roberta o segue respondendo.
-Eu preferi te esperar.
-Ué, por quê? –Diego fecha a porta e acende a luz do lugar.
-Por nada.
 O quarto está completamente mudado, parece mesmo com o porão, exceto pelos instrumentos e o tamanho, era bem maior principalmente após terem tirado muitas das velharias que haviam depositado lá.
 O casal se senta em uma cama de solteiro, que apesar de velha estava bem conservada e limpa. O lugar apesar de não ter mais as teias de aranha, ainda guarda seu aspecto sinistro, de coisa velha e abandonada.
-Você me chamou pra quê? –Diego ao lado dela abraçando sua cintura.
-Pra gente conversar sozinhos, é tanta confusão que...
-Ah, nem precisa explicar... –Diego lhe dá um beijo e ela retribui, mas interrompe ao se lembrar.
-Ah, eu trouxe uma coisa...
-Que coisa? –Ele fica desconfiado.
-Não se lembra?
-Hum...
 Roberta segura o sorriso e o olha pensar.
-Toma...
-Mas o que?...
-Eu terminei, quero que você leia.
 Diego olha para o que a namorada havia depositado em suas mãos com um rosto que demonstrava um pensamento provocante.
-Tem certeza?
-Tenho... –Roberta chega mais perto. –Por isso eu te chamei, mas não quero que leia perto de mim. Leia quando estiver sozinho.
-E por quê?
-Ah... –Ela desvia o olhar. -Eu acho que vou ficar sem graça.
-Você? Sem graça? –Diego mostra a descrença na possibilidade da namorada ficar sem graça.
-Ah, eu não sei... Não sabia nem se te mostrava.
-Não, agora eu vou ler!
-Longe de mim!
-Roberta, a gente já...
-Eu sei!
-Eu conheço...
-Eu sei...
-De todas as formas...
-Eu também sei!
-Então? –Diego não consegue segurar o rosto risonho.
-Eu não quero olhar pra sua cara quando você ler algumas coisas...
-Hum... Acho que vou gostar então...
-O que foi isso? –Roberta ouve um barulho, como se algo tivesse se mexido do outro lado do quarto.
-Deve ser rato...
-Ratos? Mas o lugar foi reformado... –Ela pensa. –É que... Tem muita tralha aqui ainda...
-Então... Deixa pra lá... Eu tô com muita vontade te beijar...
-Tá com vontade é? –Ela provoca.
-É... Vontade dessa sua boca, desse seu cheiro, dessa tua pele... –Ele vai acariciando seu rosto. –Vontade de você todinha...
 Roberta vai sentindo os calafrios das palavras dele encharcando seu corpo e seu coração com os pedidos que seu corpo apresentava, de deitar naqueles braços e refazer essa cena até o último dia em que houvesse motivo para respirar.
 Alice está em seu quarto sem esperar nada. Sentada na cama, ela olha uma foto de Pedro. Uma lágrima é pega ao tentar cair dos olhos. Não se sabe bem se a saudade é um jeito da vida nos ensinar a ser mais forte, mas acredito que todos prefeririam morrer fracos.
-Alice? –Carla abre a porta sem bater. –O que foi?
-O que mais poderia ser?...
-Pedro. –O tom é pesado.
-Pedro.
-Ele vai voltar, amiga.
-Eu sei.
-Então?
-Então que quando ele voltar talvez não haja mais lugar pra ele.
-Mas aqui no colégio eu garanto que...
-Eu não tô falando do colégio... –Alice se levanta e parando em frente à lixeira, joga a foto do rapaz em meio à outras coisas que se mostravam incomodá-la.
-Alice, você gosta dele.
-Isso não é tudo. Eu quero alguém que se importe comigo, não só que me beije, que me diga coisas bonitas. Isso qualquer cara faz... Eu quero alguém que me ame.
 A rebelde deixa Carla sozinha ao sair pela porta e nem se lembra de perguntar o que a amiga vinha lhe dizer. 

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