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Cap 62- Uma noite fria


 Ele passa rapidamente pela sala e Roberta parece já ter entrado no quarto de Pedro.
-Psiu... –Ela o chama de modo quase imperceptível.
-A Beth vai pegar a gente! –Diego cochicha agarrando o braço dela assim que chega lá dentro.
 Roberta age como se nem tivesse ouvido, abre as gavetas de uma cômoda, mas não acha mais que revistas de esporte e roupas. Do outro lado Diego vigia sempre olhando pela fresta da porta e depois olhando de volta para Roberta. Parecia que tinha pressa em sair dali, muito mais que ela.
 Logo eles ouvem um estrondo que parece o som de uma porta sendo arrombada.
-O que foi isso? –Roberta surge atrás de Diego com algo em mãos, que a princípio, o rebelde nem repara.
Vozes são ouvidas, uma discussão começa e eles então se escondem atrás de um murinho que separa a sala dos quartos, e sem olhar, agachados, eles ouvem tudo.
-Você não tem direito de entrar assim na minha casa!
-Nós viemos em paz, então pode ir baixando a bola. Já sabe como as coisas funcionam com o meu patrão.
-Ah, eu sei muito bem! Mas o Pedro não, e vocês não podem... –Beth tem a voz desesperada e desaba a falar coisas que no fim das contas não dá pra entender bem, mas para com a voz grave e pausada do homem que a interrompe.
-O garoto está se dando bem com a situação, se eu fosse a senhora não se metia nisso e assinava o termo de uma vez, antes que eu tenha que ligar pro meu patrão e a senhora bem sabe que não é bom que ele se zangue.
 Roberta olha para Diego como quem pergunta “Você está entendendo alguma coisa?” e a resposta gestual com a cabeça e com os trejeitos era sempre que não.
 Na realidade nada estava muito entendido até então. Pela conversa que Beth estava tendo com o tal homem, dava para se perceber 3 coisas: Primeiro, que ela sabia onde Pedro estava; Segundo, que Pedro não estava de má vontade; e Terceiro, que pela conversa toda, não era algo que Beth achava muito seguro.
-Vamos sair daqui! –Diego agarra o braço de Roberta e abaixados eles passam pelo corredor ao lado da sala, feito dois foguetes.
 Passam pela cozinha e fazem o mesmo caminho até o lado de fora da casa. Por um momento Beth sente que tenha algo estranho ali, mas a tensão é tão grande que ela nem se esforça muito a prestar atenção.
-O que é isso Roberta? –Diego olha para a namorada que guarda algo na mochila.
-Depois eu te explico, vamos!
 A noite chega mais feia que a tarde, o frio parece atravessar muito facilmente os agasalhos dos dois, que mesmo não sendo para um inverno muito castigador, deveria suportar ao menos um frio de final de julho. Não estava muito normal o tempo, mais parece que ele também sofre com tudo que está havendo. Dizem que natureza é viva e quem sabe se não há um coração invisível em cada mistério no qual não prestamos atenção...

 Diego segura as mãos de Roberta e eles chegam sãos e salvos na rua, que aliás, está deserta. Um corredor imenso e escuro é formado pelas fileiras de casas e pelo tapete de pedras que formam o calçamento.
 Eles caminham quando ouvem o barulho.
-Um trovão! –Roberta dá uma parada brusca e olha para Diego. –Vai chover, a gente tem que achar um táxi!
-Mas e o motorista?
-Eu disse pra ele voltar, porque se não o Franco iria desconfiar!...
 Antes que eles pudessem continuar, cai de uma só vez, uma densa e pesada chuva que os faz sair correndo pela rua vazia em busca de um abrigo. Conforme correm o ar de seus pulmões sai como nuvens de suas bocas.
-Ei!! –Diego acena para um táxi que virava a esquina.
 Assim que, logo à frente, o automóvel encosta, o casal corre para ele. Os dois estão exaustos e encharcados, mas sabem que tudo que estão fazendo pelo amigo vale a pena. Com certeza Pedro faria o mesmo por qualquer um deles.

 Na casa de Leonardo as coisas parecem começar a esquentar.
-Vocês vão ver quando ele passar por essa porta! –Leonardo empina o peito e com as mãos no quadril anda de um lado e outro enquanto Sílvia tenta acalmá-lo.
-Calma Leo, espera ele chegar pra poder esclarecer tudo.
-Sumir desse jeito! Ele tá pensando que é quem aqui dentro dessa casa?
-Seu filho, ele precisa de conversa, de atenção...
-Ele precisa é de disciplina! –A sala de estar tem um peso da tensão que se instala cada vez mais. –E essa disciplina já será imposta, não só aqui como no colégio.
-Está falando do que o Jonas pretende fazer? Isso já é certo? –Sílvia não parece concordar muito, segura as mãos e esfrega uma à outra com uma sutil ansiedade.
-Sim, eu liguei para ele ontem e ele me confirmou.
-Então o Elite Way irá mesmo mudar?
 A porta se abre e interrompe Sílvia.
-O que vai mudar?
-Filha! –Leonardo se decepciona irritado. -Achei que fosse o Diego! 
-Nossa...
-Não é nada com você, Márcia, seu pai está preocupado com seu irmão, só isso.
-Sei, mas do que estavam falando do colégio?
-Você vai saber quando voltarem às aulas na segunda. Agora, pro seu quarto que eu vou esperar o seu irmão pra gente ter uma conversa.
 Márcia não faz nenhuma força para ficar, os pés estavam molhados e incomodados dentro da sandália alta. A chuva aumentava lá fora e a jovem chegava da casa de Téo, como seu pai sabia. Ao contrário de Diego, tinha toda a confiança e o carinho do pai sem nenhuma medida. Leonardo fazia sim, diferença entre os filhos, exigia muito mais de Diego, por considerá-lo indisciplinado e desobediente. Não entendia que para receber resultados do filho deveria dar a ele motivos para fazer pelo pai e não que tivesse medo dele. Mas só seu semblante autoritário já causava náuseas no filho.

 O caminho é longo, mas eles chegam rapidamente à casa de Franco. O taxista deixa Roberta e volta para casa de Diego. Assim que a rebelde entra em casa, vai direto ao quarto de Alice.
-Ei, acorda! –Ela sacode a menina pelo ombro. –Alice, eu tenho que te contar uma coisa, anda!!
 Roberta não tem paciência alguma, tinha muita sorte de ter entrado sem ser vista em casa, pois do jeito que estava, toda molhada, todo mundo iria fazer milhares de perguntas.
-Que foi?... –Alice abre os olhos, mas nem se levanta, passa a mão por baixo do travesseiro e olha para a amiga, indiferente. Parece nem ter dormido, na verdade parece mais ter realizado uma fuga momentânea da realidade.
-Olha o que eu achei na casa do Pedro! –Roberta lhe entrega um bloco de anotações.
 Alice olha para o papel e se volta a amiga.
-Você tá tremendo, tá toda molhada. Onde você foi?
-Na casa do Pedro, agora eu vou tomar um banho, depois te conto tudo, mas lê isso até eu voltar.

 Roberta sai e deixa Alice com o bloco em mãos e um gesto esperançoso, como se um pedaço de Pedro estivesse nele ou pelo menos o deixasse mais perto.



 A alguns quilômetros dali, após alguns minutos, Diego não tem a mesma, ou nenhuma esperança de se entender com o pai.
-Você acha que é adulto, dono do seu nariz não é mesmo?
-Pai, eu posso explicar...
-Explicar o que? Que você é um irresponsável?
-Eu tava com a minha namorada, nada mais!
-E que namorada! –O homem desvia o olhar sarcástico.
-Não fala da Roberta!
-Eu falo de quem eu quiser, eu estou na minha casa! Enquanto a você, deveria ter mais respeito e seguir o exemplo da sua irmã! Ela sim é uma boa filha, não é como você!
-Vai começar as comparações? -O rebelde encara o pai.
-Você e ela são como água e vinho, não tem a mesma qualidade!
 A água escorria pelos cabelos de Diego e lhe varava o rosto fechado. O rebelde engolia cada palavra do pai como se engole um remédio amargo.
-Então fica com ela, com os gêmeos e me deixa em paz! -Ele se altera.
-É isso mesmo que eu vou fazer!
-Como?
 Pai e filho frente à frente como dois galos de briga.
-Quando as aulas voltarem você vai ficar no internato tempo integral durante um mês, nada de sair nos fins de semana pra gastar o meu dinheiro!
-Isso é um castigo por eu ter feito a grande má-criação de ter saído sem avisar? –Diego fica pasmo.
-Não, é um corretivo pra ver se você se torna digno do sobrenome que carrega! -O rosto do pai fica como o de um leão pronto a rugir.
-Tudo bem. –Diego fica firme. –Faça o que quiser.
 O garoto sobe as escadas deixando um rastro de água por onde passa, chega ao quarto e lança a porta com toda a força que possui ao abri-la. Seu cérebro parece ferver, suas ideias se misturam e a raiva toma conta de tudo. A vontade angustiante era de ter dito muito mais coisas ao pai, mas sabia que nos momentos de raiva poderia dizer coisas que se arrependeria mais tarde, e por mais que achasse que o pai não merecia agora, ele o respeitava já por hábito.
 Já passa das 11 horas quando Sílvia surge para conversar com o enteado. Ao entrar, ela o vê sentado na poltrona com uma expressão ainda indignada.
-Diego, você ainda não se vestiu para dormir?
-Não. –Ele é seco.
-Essa não é a roupa com que saiu hoje cedo?
-É.
-Achei que você tivesse se molhado.... Não me diga que você deixou a roupa secar no corpo? –Ela pergunta já constatando. –Menino, você vai ficar doente!
-Por que ele é assim? –Diego nem está ouvindo.
-Ele é seu pai, não um amigo do colégio. Ele não é e nunca será perfeito, está tentando fazer o melhor, mas não sabe como... Na verdade nenhum pai sabe. Não leve a sério o que ele disse, eu vou conversar com ele e...
-Não. –Ele é rápido ao responder. –Eu vou ficar no colégio, e se é assim que ele quer, eu não volto nunca mais!
-Diego, não faz assim! Olha, tome um banho porque você vai acabar ficando doente desse jeito e depois pense com a cabeça fria, ok? –Sílvia tenta convencê-lo. –Tudo vai se resolver.
 Ao sair com a esperança de que o tivesse convencido, a madrasta deixa Diego ainda sentado na mesma poltrona com pensamentos que talvez lhe roubassem o sono por toda a madrugada.


<<Cap 61           Cap 63>>

Comentários

  1. se o rascunho já tá bom desse jeito, quero ver o capítulo inteiroooooooooo!!!!!!!
    Aline posta mais pfffffffff

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  2. O que o Jonas vai fazer???!!! Que medo!!! (Scheila)

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  3. Ha Aline vc é demais obrigada por ter pensado na gente , linda !!!!!

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  4. O Diego vai ficar doente, uhuuuuuuuuuuuuu

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  5. Aline me responde por favor , o Deigo vai ficar doente no capitulo 63, e hein vc pega tudo no ar parece que le o meu pensamento legal heiin o Diego fica doente + discursão com o pai= Peso na consiencia!
    Cara eu amo sua imaginação

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  6. Aline!!! Cadê o Pedro?!!! que suspense hein? Tadinho do Diego, quem tem um pai assim nem precisa de inimigo!!!! Ansiosa pelo próximo capítulo! (Scheila)

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  7. Obrigada amores, ele vai ficar dodói sim, tadin... mas vai ter uma bela enfermeira...rs

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  8. uhuuuuuuuuuu, a enfermeira dele vai ser a Roberta né Aline?

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  9. Cade o capitulo 63 aline tenta postar hoje por favor to muito curiosa!!!!!!!!!!

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  10. Cadê Aline ja são 10:20 vc vai postar mesmo..

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  11. postei o rascunho antes das 10 amores, tem q clicar no título da página p ver atualizada.

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