Cap 49- Uma manhã preguiçosa

 O quarto 16 parece querer expulsá-los tanto quanto a fúria de Marina que os faz permanecerem ali.
-Ninguém sai até me dizer o que estão planejando!
-Tá achando que vai me peitar pirralha? -Binho não abaixa para ela.
 Logo entram duas pessoas atrás dela. Uma mulher de cabelos negros, compridos e um homem robusto. Certamente Roberta se lembraria de um deles, mas eram novidade para os demais.
-Podem falar, eles não mordem... Quer dizer... -Marina sorri. - ...A não ser que eu mande!
-A gente não tava fazendo nada, só tava vendo como fazer tudo que você falou...
 Mesmo João tentando amenizar as coisas a desconfiança da garota crescia.
-Não importa, agora eles vão tomar conta da situação. Vocês não precisam se preocupar em planejar nada... -Marina anda entre eles. -É só obedecer as regras deles... Amanhã os rebeldes voltam e eu quero tudo pronto para recepcioná-los!
 E sem ter outra saída eles começam a fazer tudo às escuras. Jonas parece não desconfiar e até gostar do silêncio que estava no colégio.
 Muitos dizem e não é de duvidar, que no silêncio podem haver muito mais coisas acontecendo do que a gente pensa.


 De volta ao hotel, Roberta e Diego parecem ter um ímã que os prende à cama... Já passa das dez e não parecem se preocupar com os amigos ou com a volta pra casa.
 Deitado ao seu lado a esfregar sua cintura debaixo do lençol, ele permanece em um beijo que não tem hora pra acabar.
-Diego... -Ela tenta falar retirando a boca da direção dele, mas quem disse que isso importa.
Ele desce pelo rosto até onde não deve pressionando os dentes em leves mordidas.
 Roberta segura seu rosto.
-Você não acha estranho que ninguém tenha vindo no quarto?
-Ah... Depois a gente pensa nisso...
 Roberta ri da preguiça de Diego.
-Ei, desde quando você fica nessa moleza toda?
-Desde que eu tenho você  e só você pra mim, sem ninguém por perto, sem problemas, sem banda, sem nada... -Ele sorri e enche ela de beijos.
-Ai, mas era pras meninas terem...
-Psiu... -Diego a impede de falar. -Depois...
 E retornando a boca da qual já estava com saudade, encerra ali o papo que mal havia começado e junto com ele, todas as preocupações de Roberta.

 Sob o lençol, eles brincam um pouco mais... Roberta ajeita a cabeça no travesseiro enquanto as mãos dele descem... Namoram com toques e palavras bobas... Passam toda a manhã assim, sem querer voltar.
 Roberta se deita sobre ele vendo que Diego começa a cochilar. Não segura o riso ao passar o indicador pela ponta do seu nariz vendo que não o desperta. Cruza os braços sobre o peito dele feita e apóia o queixo... Permanece com um olhar parado, sentindo-se levantar e descer com a respiração dele.
-Cadê a coragem pra te acordar, hein? -Ela fala baixinho. -Agora eu te entendo.
 A rebelde deita o rosto perto do dele que abre um abraço. Alguns dedos vão entrando nos cabelos dela em um carinho gostoso, enquanto que outros vão dando um passeio pelas costas livres de roupas. Pouco a pouco os dois quase se rendem ao cochilo.
-Diego... -Ela nem abre os olhos.
-Hum?
-To morta de fome...
-Imaginei. -Ele ri.
-O povo deve tá esperando a gente... -Ela enfim levanta a cabeça e o olha. Diego já está com o olhar bem vivo.
-Então eu vou me trocar! -Roberta tenta dar um beijo rápido antes de levantar, mas ele a faz ficar mais tempo do que devia. -Diego!
-Que foi?
-Eu to sem roupa!
-Eu percebi né?! -Ele ri.
-Então deixa eu ir me trocar!
-Não deixo! -Diego se vira sobre ela prendendo seus pulsos.

-Ei!
-Que foi? Tá com muita fome?
-Muita! -Ela tenta se irritar, mas ele desce um selinho e ela vai se desmanchando.
-Sério...?
-Muita... -Os olhos dela querem se fechar.
-É...? -Ele continua no selinho indo e vindo. Olha de para ela muito de perto e toca sem pressa a boca macia.
-Assim não vale... -Ela relaxa os braços e deixa... Ele era o único que podia provocá-la mais que a fome.



 As meninas acordam e procuram os namorados para o almoço. O restaurante do hotel está cheio e eles se encontram para uma farta refeição. Fome é  o que não falta.
-E aí Carla, quando é a eliminatória final?
-Ah, Alice, ainda tenho um tempo bom pra treinar... Não sei, mas acho que vai ser no rio mesmo. Tô muito confiante!
-E não é pra tá? -Tomás lhe dá um beijo no rosto. -Você arrasa Carlinha! Tirando aquele seu companheiro...
-É parceiro de dança, Tomás...
-Eu sei Carla... -Ele não faz uma cara muito boa mas permanece aceitando.
-E cadê o rango?
-Vindo rápido, eu espero! -Tomás exclama com a mesma fome de Pedro.
-Pelo visto, teve gente que até perdeu a fome... -Alice pensa alto.
-Bom dia!! -Roberta surge com um bom humor de se estranhar.
-Bom dia... -Todos respondem desviando o pensamento.
 Diego beija a mão que tem trançada à sua e puxa uma cadeira para a namorada sentando ao seu lado.
-E aí?! Como foi a noite?! -Tomás não entende muito de discrição e recebe uma cotovelada de Carla.
-Tomás!
-Ai! Que foi?
-Não é da nossa conta, né! -Pedro ajuda.
-Isso mesmo! -Diego adianta. -Você se vê com a Carla, o Pedro com a Alice... E eu... Com a minha Roberta... -Ele não se desgruda dela.
-Nossa, que melado!
-Hoje nem a sua implicância tira minha fome, Alice!
-E alguma coisa tira sua fome, Roberta?
-Muito poucas...
-Hã...! Mas uma pergunta: -Alice muda de assunto. -Quando a gente volta?
-Não se preocupe que ainda dá pra aproveitar bastante.
 Pedro iria continuar com a fala mas é interrompido pelo garçom que chega com o almoço. E depois disso há muito mais a ser conversado, é fato que ninguém pensa em voltar para casa, a volta para o colégio era certo, só não era tão certo assim o que iriam encontrar lá.



 Vendo o Elite Way superficialmente tudo parecia muito correto ou muito errado, dependendo do ponto de vista. Estava tudo pronto e eles então retornam para seus quartos. Pilar e Binho passam primeiro pela cozinha, João e Vitória vão direto para os quartos e Téo tem os olhos mais abertos do mundo, estampa o medo neles mais nítido do que qualquer coisa enquanto parte depois de todos. A ordem era de só esperar, não havia escolha além dessa.
-Eu preciso falar com você senhorita.
-Agora diretor? -Marina já estava subindo as escadas quando Jonas a aborda.
-Agora. Ligaram da sua casa e mandaram te avisar que seu pai passou mal outra vez...
-Ah, deve ser mais um daqueles apertos no peito... Ele sempre teve pressão alta e fica fazendo manha... -Ela não dá importância.
-Eu dei liberação para você ir vê-lo, mas a enfermeira me disse para que você não se preocupe, ele está fora de perigo.
-Sabe doutor, eu não estou com vontade, amanhã eu vejo isso. Afinal, se ele está fora de perigo, o que eu vou fazer lá?
-Só pensei que quisesse ficar com seu pai... -O diretor franze a testa, desacreditando na atitude dela.
-Pra que? Ele nunca quis ficar comigo!
-Como?
 A menina faz um olhar rancoroso, como se lembrasse de algo.
-É isso. Se ele nunca teve tempo pra mim, eu também não tenho pra ele!
 E ao subir as escadas correndo, Marina deixa o diretor outra vez pasmo. Mas o que poderia fazer? Deixasse que o tempo dissesse a ela o que devia ser o melhor, pena que nem sempre podemos fazer tudo de novo.

  As horas passam, os passeios e as mordomias acabam. Uma dose de realidade surge com o cair da tarde e os trazem de volta ao inesperado. Ao pisar no colégio os seis amigos mal guardam as coisas e vão direto para a cantina, um lanche rápido e partem para o porão, que já havia se tornado um lugar muito comum, talvez o único em que sentissem que podiam respirar.
-Nossa como isso aqui tá horrível!
-Nunca foi uma maravilha né, Tomás! -Pedro já vai logo pegando o violão e se jogando no sofá.
 Os outros vão se ajeitando com saudade de um bom ensaio. Só não esperavam receber a visita de Vitória.
-O que você quer? -Carla já barra a garota.
-Calma eu vim em paz!
-Em paz? -Diego duvida.
-Sim, eu vim avisar pra vocês terem cuidado! Tem a ver com o sequestro da Roberta!
.-Fala de uma vez!
 Diego vai até a namorada que fica balançada
-Calma, muitos viram que tinha pessoas rondando o colégio, e algumas fontes me contaram que estava a procura da Roberta, parece que um esteve no quarto 16 enquanto vocês estavam viajando...
-Espera! -Pedro interrompe. -Que quarto é esse? E como entraram aqui sem o Jonas ver?
-Parece que eles tem contato aqui dentro, acho que com os funcionários da limpeza. Já o quarto 16, ele fica do outro lado do colégio, acho melhor vocês irem lá! -Vitória fica com a voz falha, parece ter medo do que está fazendo, mas prossegue firme em seu papel.
-Não seria melhor falarmos com o Jonas?
-Acho que seria melhor... -Pedro concorda com Carla.
Diego olha para a namorada que não havia dito nem uma palavra até então.
-E você o que acha?
-Eu... Eu não sei... -Roberta fica desorientada, com o rosto assustado.
-Só que eu acho que o seu Jonas já tá dormindo. -Vitória esfrega as mãos, nervosa.
-A gente fala com ele amanhã, só que precisamos falar!
-Você pode esperar, Carla, mas eu não! -Diego toma a frente e olha para Vitória. -Me leva nesse lugar que eu quero ver o que tem lá!
-Vamos ir devagar, cara!
-Nada disso, Pedro! Eu não vou deixar que nada aconteça a Roberta!
-Não vai acontecer nada... -Roberta o segura pela mão.
-Eu sei, porque eu não vou deixar! -Ele segura o rosto dela e a confiança que passa a deixa mais calma. Tem a sensação que tinha alguém ali para impedi-la de ser forte todo o tempo, alguém para impedi-la de tentar fazer tudo sozinha, alguém para protegê-la e deixar que ao menos uma vez, não tivesse que ir sozinha, tinha alguém para lhe dar a mão e ir junto.

 -Então tá... -Pedro se rende. -Mas vamos todos então!
 Vitória abre um sorriso assustado.
-Ok, eu levo vocês!
 E eles decidem, o caminho até lá demora pouquíssimos minutos, mas eles querem descobrir pistas, e por elas andariam toda a noite.
 Enfim chegam a porta. Alice é a primeira a se sentir estranha.
-O que foi, amor? -Pedro a segura.
-Não sei, to sentindo uns calafrios...
-Você tá com febre!

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