Cap 46 - Nas nuvens

 O vapor da banheira começa a surgir, o calor envolve todo o ambiente e faz o azulejo suar.
 Roberta descola sua boca da dele, com a dificuldade de que Diego não quer deixar, e nisso a mantém mais um pouco.
-Não vai... -Ele segura suas mãos. -Fica comigo...
-Eu to com você... -O jeito dele a bambeia, no final, realmente não quer ir.
-Tá longe demais...
 Diego abraça a cintura de Roberta outra vez e com um pequeno arranco a trás junto. De pé e frente a ela, o rebelde beija seu rosto demoradamente, se inclina atingindo o pescoço e o começo do ombro. Vai rodeando em seu joguinho de deixá-la sem defesa, o que consegue. A garota fecha os olhos em um delírio quieto, em uma ânsia de se largar nesses braços neuróticos que não param de apertá-la contra o peito.
 Roberta leva as mãos ao peito descoberto do namorado e sobe depressa até sua nuca, percebe as mãos dele por suas costas frias indo até o fecho de seu vestido e o abrindo devagar enquanto se beijam.
 Calafrios tomam conta do seu organismo em transe, mas ela vai permitindo que Diego continue a abrir totalmente sua roupa e introduza uma das mãos por baixo dela.
 Ele esfrega a pele arrepiada e Roberta continua entrando em sua boca sem paciência e sem limite de saciedade.
 Eles vão se levando pela madrugada, pela noite chuvosa e pela fantasia de perder e encontrar o perdido sentido de acreditar que um momento é feito para acontecer. Está escrito nos clichês antigos e nos olhos do futuro que brilham abobalhados pelo que não entendem.

No colégio eles correm pelo jardim, está escuro mas precisam chegar sem que ninguém possa ver. Entram respirando rápido, quase colocando a alma para fora em um cansaço sem medida. Os pijamas sujos e os pés descalços.
-O que você quer? -Téo chega aflito e desesperado com o laptop em mãos.
 Marina olha desdenhando o rapaz e não lhe responde, observa atentamente o grupo que havia formado. Todos formavam uma linha em sua frente, da esquerda para a direita seguem Pilar, Binho, Téo, Vitória e João.
-Vocês demoraram!
-O que você queria? É madrugada garota!
-Ah, nem é tão tarde assim, Binho... -Marina se senta, já estava lá a espera deles e também ansiosa, pois não gostava daquele lugar.
 Os cantos da parede tinham teias de aranha enormes e um amontoado de velharias lembraria o porão se não fosse de uma visão tão fosca e agoniante.
-Diz logo o que você quer! -Téo fica impaciente e insiste em receber uma resposta.
-Calma meu bem... Você vai fazer umas pesquisas pra mim mas quero o mapeamento completo do colégio, depois você vai localizar uma uma pessoa.
 Téo ouve tudo sem retrucar. Binho olha incrédulo.
-Você vai fazer parte disso, Téo?
-Ele não tem escolha. -Marina se antecipa. -Eu contei pra ele tudo que já fiz.
-Você se entregou assim?
-Ele sabe de um jeito que não pode provar e mesmo que pudesse, minhas mãos estão limpas, não sujei elas...
-Você está suja até o último fio de cabelo! -Pilar fica irritada com o cinismo de Marina.
-Vamos acabar logo com isso! -Binho resolve acabar com a discussão, só quer sair dali. -Fala logo o que você quer!
-Tá... -Ela nem se importa com a tensão do grupo e continua caminhando pelo local empoeirado. -Eu quero brincar um pouco e vocês vão me ajudar.
-A gente vai se meter em uma confusão das grandes!
-Claro que não! Eu só to no tédio e quero me divertir! O que tem?
 Vitória e João permanecem assustados sem se pronunciar. Os dois tem no fundo um arrependimento enorme de ter entrado nisso mas já não podem voltar atrás. Só resta agora ouvir os planos loucos da jovem que aparentava a cada dia mais, ser mesmo uma psicopata, e então torcer para que não fossem por demais arriscados.
 A garota começa a falar e dar ordens como uma pequena general, um carneiro vestido de lobo que uivava de modo estridente e irritante. As suas ideias pareciam realmente loucas e deixariam todos que participassem em grandes apuros. Claro, ela não.
 Mas as vantagens que se tira das armações são tão pequenas como a de caçar e não comer a caça. A memória dos bandidos se escondem nos escombros sombrios de suas próprias dores sem remédio, da qual se enganam e por fora exibem somente uma máscara de superioridade que nunca existiu.

 No excitante beijo que molhava a alma de desejos tão fortes, acontecia um andar suave de Roberta para trás. A garota decidida a continuar de onde havia interrompido antes da briga, sai dos braços do namorado e o deixa apreensivo mais uma vez. Caminha ao lado dele, indo até a banheira localizada logo atrás do rebelde. Desce de leve as mangas do vestido enquanto anda e descobre os ombros. Diego engole de volta o coração e os os olhos nem se lembram de piscar. A vidração que ele expõe e seu jeito de quem tinha fome a faziam querer vê-lo queimar.
 Ficando de costas para ele, Roberta chega frente a banheira onde a água balança sem calma. Diego segue lento até ela e a abraça por trás, segurando suas mãos juntas por cima do peito. Roberta fecha os olhos assim que ele começa a beijar sua nuca. Ele faz a pele dela se avermelhar com a força que pressiona.
 A visão que segue é do vestido que se desgarra dela e cai ao chão, causando uma brisa gelada em seu estômago.
 O namorado desliza as mãos pela cintura descoberta e macia até onde não pode mais. Cada curva que sente  é uma febre a mais que seu interior experimenta.
 O rosto dela se vira e começam o beijo de um modo intenso e apaixonante. Ele afunda em sua boca perseguindo seu gosto mais profundo.
 Roberta se segura nele enquanto mergulham sentindo o prazer do calor que água quente oferece em contato com o corpo frio da chuva anterior.
 Somente as faces descobertas e os cabelos nadando sobre a superfície sentiam o ar que levavam as gotículas de vapor para cima.
 O beijo continuava como o abraçar deles que submerso provocavam aquele conforto com que o espírito sonha. É como se uma nuvem os cobrisse, o tirasse do mundo e os deixasse dentro do outro pra sempre.
 Eles brincam de nadar no pequeno espaço. Roberta vai ao outro lado da banheira com um sorriso malicioso ainda segura pela mão de Diego.
 As roupas íntimas que os cobrem são tomadas pela espuma que se forma. O aroma fresco e delicioso vai tomando eles de sensações fantasiosas desse banho que se dão.
 Eles sorriem e passam a mão ensaboada sobre o outro. Tapam os olhos de espuma e escorregam para debaixo da água sobre o outro. A brincadeira acaba no chuveiro onde a espuma se vai junto com o que sobram das roupas.
 Ele vai devagar, um beijo sobre o pescoço ao abaixar a alça da peça de cima, dedo por dedo se ajusta a abrir o fecho. Ela se agita por dentro, deixa que ele a veja, que a sinta com as mãos, que percorra seu corpo em seus lugares mais secretos. Estremece ao senti-lo tão grudado aderindo à seu ser completamente.
 Ela se esconde e busca a toalha antes que algo mais aconteça. Brinca com o desejo dele que a segura nos braços ao sair do box.
-Vem cá! -Ele a beija mal envolta na toalha e rindo muito.
 O nervosismo ia sendo tomado pela sensação de estar com alguém que a amava, que nunca a faria mal e que sabia dar a ela as sensações mais lindas que já havia sentido. Estava com uma ternura nos gestos, no olhar e no toque. Romântica e brincalhona ela o seduzia sem saber. Naturalmente sabia o que fazer.
 Ao deitá-la sobre a cama, Diego vai sobre ela mas não a beija. Faz um carinho em seu rosto e olha um tempo sem fim para ele, como que a guardar cada detalhe de seu rosto, desenhando mentalmente para que quando adormecesse, ainda que inconsciente, pudesse de novo ter aquela imagem no sono.
 E se os segundos são a eternidade que procuramos, são todas as coisas que a gente tem realmente. Às vezes e quase sempre, travamos um ano de guerra para obter um segundo de paz.


<<Cap 45     Cap 47>>