Cap 37- Eu nem vou encostar nela!

 Diego tinha todas as palavras para dizer, mas nenhuma lhe vem à cabeça agora. Tem uma sede maior que todos os seus pensamentos. A de beijar a boca que tinha bem diante de si, tão perto da sua. A imagem da carne rosada a se mover ansiosa diante dele o cega. Só consegue ver aquele interior por uma pequena fresta, pronto para ser explorado.
 Chega muito perto e ela não consegue se afastar.
 Diego brinca, puxa o beijo aos poucos.
 Soltando seus punhos já sem força, ele desce as mãos a pegando em um abraço firme. Roberta fica leve, completamente domada e traída por seus sentimentos. Ela o beija solta e totalmente aos comandos dele.
 Diego é longo na duração das levadas que dá em sua boca. E que maneira tem de beijar, que a deixa tonta como mais ninguém no mundo consegue.
 A duração deliciosa e delirante vai sendo prolongada, até que um malvado raciocínio a lembra do porquê de ter de manter a marra e a firmeza. E então desperta:
-Sai. -A voz mal é ouvida quando o empurra.
-Roberta. -Ele tenta se reaproximar, mas ela se afasta.
-Chega. -Ela o olha decepcionada. -Eu nunca imaginei que você fosse fazer o que fez.
-Eu juro que eu não contei pra Marina!
-Então como ela sabe?
-Ela ficou me sondando e eu não sei como...
-Chega Diego! Mesmo que você não tenha contado, você confiou demais nela!
 Ele a olha e por um segundo fica sem resposta.
-Eu achei que você dava importância a nós dois tanto quanto eu dava!
-Dava? -Diego sente um passado soar.
-Se não te importou antes, eu é que não vou me importar agora! -Ela tenta sair de sua frente, mas sem sucesso.
-Isso não é verdade! -Ele firma a voz. -O melhor dia da minha vida foi o nosso... Não só porque te desejo, porque te quero! -Ele dá um passo a frente. -Nem só porque te acho a garota mais linda que existe... -Ele leva as mãos em seu pescoço e faz um carinho. -Mas principalmente porque eu te amo. Porque você é mais importante que qualquer coisa pra mim...
 Roberta vê todas as suas armas caírem por chão, como um punhado de folhas secas. O menor vento as leva para onde quiser.
 Tendo uma luz acesa dentro dos olhos, ela também dá um passo a frente.
-Muito bem! -O encanto se quebra.
-Seu Jonas, a gente...
-Vocês sabem das regras. -O diretor é frio. -Pra minha sala agora!
 Eles se olham ainda meio perdidos.
-Tão esperando o quê?
 Os dois se apressam e seguem, enquanto atrás deles, Jonas observa cada passo que dão, pensando na irresponsabilidade dos dois, que não conseguem se afastar nem por um momento de um problema.

 Já na cantina, as meninas conversam, ou melhor fofocam, sobre a noite de Marina.
-Ela chegou um trapo! -Vitória cassoa. -Suja, despenteada...
-Nossa! O que o Diego fez com ela?
-Ah, Sosô, ela não me disse... Mas com certeza ele tirou foi onda com a cara dela.
 Marina surge na porta no exato momento da última fala, e com uma péssima cara.
 Ao sentar sozinha na mesa a menina começa a tomar o café. Percebe que está sendo olhada e apontada. A raiva lhe sobe. Ser alvo de chacota não era bem os planos que tinha após o encontro com Diego.
-O que aconteceu com você? -Pilar senta ao lado de Marina.
-Nossa, você não sabe? Todo mundo sabe...
-Não me misturo com a turminha da fofoca.
-O Diego me levou para um encontro ontem... Foi horrível! Nunca pensei que ele fosse tão asqueroso! Mal educado! Grosso! Urr!
-O Diego? Tem certeza que você tá falando do mesmo Diego que eu?
-É o único que eu conheço!
-Então eu acho que ele fez isso pra te zoar...
-Porque ele faria isso?
-Sei lá... Talvez ele quisesse que você se desiludisse... Afinal ele e a Roberta voltaram...
-Como? -Marina quase se engasga com o suco.
-É, meu pai pegou eles no maior amasso no jardim. Tão lá na diretoria, chamaram até a Eva e o Leonardo. Parece que a coisa vai ficar feia pra eles!
-Ah, então é isso... -A menina junta as coisas e acredita na teoria de Pilar. Ele havia feito tudo aquilo para a ver longe e poder conquistar Roberta outra vez sem problema. Tudo fazia sentido, mesmo que não fosse verdade.
-Eles se amam... -Pilar tenta convencê-la. -Se você gosta dele é melhor desistir...
-Não... Eu não quero mais o Diego...
-E quer o que então?
-Não é da sua conta! -A menina sai, deixando Pilar espantada com a mudança tão brusca que havia ocorrido em sua docilidade.
 Algo tinha em mente e não parecia ser o mesmo plano em que estava tão empenhada poucas horas antes.

 Ao chegar à sala de aula minutos antes do sinal tocar, ela dá um telefonema.
-Alô... É, é sou eu. -Marina não está com paciência. -Quero que fique atento, posso te chamar a qualquer hora e pra qualquer coisa!... Eu sei... Agora eu tenho que desligar, tem gente chegando...

 Os colegas de classe vão procurando suas carteiras e Marina também segue normalmente para o seu lugar. Retoma o rostinho de paisagem e os sorrisos que a todos convence. Somente Pilar e João a olham diferente, de algum modo, sabem coisas dela que outras pessoas não sabem.

 Na diretoria as coisas começam a ficar quentes. Leonardo atarefado se queixa de ter que comparecer ao colégio.
-Jonas, não é um pouco de exagero nos chamar por conta de um beijo?
-Eu acho exageradíssimo! -Eva também se queixa.
-Seus filhos passam dos limites todos os dias! -Jonas aponta para Roberta e Diego, que em um sofá no fundo da sala, observam a cena entediados.
-Eles sabem que aqui é proibido namorar!
-E tem como impedir adolescentes de namorar, Jonas!? -Eva tenta diminuir a gravidade das coisas.
-Mas regras são regras e eles não podem ficar de agarramento no meu colégio!
-Ah, então vocês voltaram? -Eva se vira sorridente para o jovem casal.
 Eles se olham. Diego apreensivo.
 Roberta pega em sua mão e sorri. Um sinal positivo para a mãe que se debruça na cadeira a suspirar.
-Ei, ei! Pode ir largando! -Jonas se levanta rápido e na mesma velocidade cada um pula pra um lado do sofá.
-Eu estou vendo que não vai ter jeito. Vou ter que separar vocês de turma!
 Os dois ficam boquiabertos.
-Mas isso não é justo! -Roberta dispara. -A gente não fez nada de mais!
-É Jonas, isso vai prejudicar eles. -Leonardo tenta defender. -Afinal já estão acostumados com a turma, com os professores, e são bons alunos, não são?
-Sim... -O diretor não tem como negar. -Mas o que eu faço então?
-A gente vai se comportar! -Diego dá sua palavra. -Eu nem vou encostar nela!
-Não? -Roberta faz bico olhando para ele.
-É, é isso mesmo! -Diego insiste, se contendo para não agarrá-la ali mesmo.
-Por enquanto não vou fazer nada, mas já que deu sua palavra, eu vou vigiá-los.

 Todos se dão por satisfeitos e a confusão tem seu tão esperado fim.

 Na cantina os amigos não sabem em que confusão eles entraram, mas imaginam.
-Eles deviam tá no maior love e o diretor pegou...
-Tadinhos Tomás...
-Ah, Carla eles vão se safar! Eles sempre se safam.
-O Tomás tem razão. -Pedro concorda com o amigo. -Não é a primeira vez que um de nós é pego em uma situação dessas. Além do mais se eles precisarem a gente vai tá aqui pra ajudar.
-É... Mas apesar da confusão eu to feliz que eles voltaram... -Alice abre um sorriso.
-Eu também linda! É bom porque quando a Carla for pra São Paulo todos nós podemos ir sem que haja brigas!
-Gente, eu nem sei se eu vou passar...
-Claro que vai! -Tomás abraça e beija o rosto a namorada. -Eu sei que vai.
-Gente! Será que a Eva consegue agendar um show pra gente nesses dias que estivermos em São Paulo?
-A gente tem que ver com a Roberta... Mas acredito que a Eva consiga sim... -Pedro leva em frente a ideia de Alice. -Nossa, seria bom demais pra gente poder divulgar a banda!
-Então tá combinado se tudo der certo: Rebeldes em São Paulo!
-É isso aí Tomás!
 Todos ficam empolgados durante o almoço. Planos é que não faltam para levar em frente e tornar concreto os seus maiores desejos.



 Quando retorna ao quarto, acompanhada pela mãe por ordem do diretor, ela se despede e se vê sozinha. Diego também deveria estar em seu quarto. Ainda tinha que falar alguma coisa a ele, ou talvez não. Mas a verdade é que queria vê-lo. Ao se deitar na cama ela fecha os olhos e relembra a cena do jardim. Relembra não só essa, mas todas as cenas dos beijos que já haviam dado até então. A cada um que passava em sua mente ela via que Diego ficava mais necessário. Senti-lo nunca era demais, mesmo que brigassem, mesmo que se ferissem, mesmo que dissessem se odiar, mesmo e apesar de tudo, ela não se aceitava sem ele.
 O tempo gasto na diretoria havia sido tanto que já chegava a hora do almoço. A janela aberta no quarto, deixa que alguém passe facilmente sem ser percebido. Devagar ele se aproxima da cama onde a rebelde está deitada a cochilar. Encostando a boca na dela, ele a acorda com um susto.
-Diego? -Ela fita seu rosto risonho. Logo sorri também.
-Sorriso lindo... Saudade de te ver sorrir pra mim...
-O que você tá fazendo aqui?
-Eu? Bom, eu vim ver se é verdade o que você me deu a entender na sala do Jonas... -Ele faz um pouco de hora com as palavras.
-Você sabe que eu não gosto de mentira. -Com isso Roberta afirma o que ele queria ouvir.
-Então você me perdoa?
-Ainda to meio bolada... -Ela abaixa os olhos mas logo os ergue outra vez. -Mas não vivo sem você...
 Diego chega mais sobre a cama. Tenta ganhar um beijo mas ela se levanta, deixando ele no ar.
-Ah, mas tem uma coisa ainda! -Ela cruza os braços. -E aquela história de que "Eu nem vou encostar nela"
-Não me lembro... -Diego se faz de bobo, também levanta e vai até ela.
-Ah, não lembra é? Sei... Você garantiu ao Jonas que não iria tocar em mim.
-Ah, mas só um pouquinho assim não faz mal... -Ele mostra com os dedos.
 Ele caminha e ao encostar nela passa os dedos em sua boca.
-Não dá pra viver sem isso! -Ele lhe dá um beijo. Tapa o sorriso dela, que já estava impossível de ser resistido.
 Ela o abraça. Abraça muito e aperta. Vai se apoderando do calor que ele trás ao entrar pulsando em sua boca. Ri em pensamentos ao imaginar, que minutos antes, outros beijos haviam passado em em sua mente. Beijos apertados, escondidos... Rápidos, molhados... Beijos misturados com dor, com alegria, com rancor, com desejo... Beijos roubados e doados, beijos de carinho e cuidado... Beijos que transpassavam a realidade e deixavam a alma totalmente longe do corpo. Arrepiavam, deixavam um gosto cada vez mais viciante, um gosto de vida, uma vontade que dava febre.
 Eles aproveitam o esconderijo, aproveitam o perigo e o que ele provoca. Vão se desfazendo dos medos... Mas não dos medos que deviam ter, do que está em volta deles, mas dos medos que tem por dentro. Aqueles que a gente acaba colocando acima da felicidade, que a gente coloca junto com o orgulho e nos faz ficar ignorantes, vendo um falso bem estar em se afastar de quem se ama por não conseguir entender que as pessoas erram e se machucam constantemente. Parece que temos espinhos na pele, assim como as rosas em seu caule. A defesa dela deixa sua beleza protegida, e quem a ama, vez ou outra, ao podá-la, corre o risco de se ferir. Do mesmo modo que ao tocar em suas pétalas frágeis, pode destroçá-la.
 São riscos que nós queremos correr dia após dia, só para sentir um pouquinho de alegria, mesmo que ela doa.



 No quarto das meninas, Marina digita agilmente. Na tela uma frase simples: "Eu vou te pegar."
-Vamos ver se você ainda guarda traumas disso querida...


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