Cap 42- Gosto tanto do seu sorriso

 Roberta desce as escadas calada.
-Algum problema?
-Claro que não... -Ela deixa o beijo surgir antes de chegar ao sofá, assim, meio atrapalhado enquanto andam.
 Ao se sentar no sofá, ele a beija enquanto que ela começa a perder a concentração. Abre os olhos ainda mexendo os lábios nos dele. Vai diminuindo até que para.
-Que foi, você não quer beijar?
-E quando eu não quero? -Ela dobra o rosto sorrindo.
-Então vem pra cá! -Diego pega suas pernas e põe sobre as dele, deixando a namorada espremida no braço do sofá.
 Eles se beijam e com o passar de poucos segundos, ela volta a se distanciar.
-O que foi?
-Vamos sair daqui? -Ela fica agitada.
-Porque?
-Porque sim! Eu não quero ficar aqui!
-É por causa do que aconteceu?
-Não. -Ela olha para vários lados ao mesmo tempo. -Já passou tantos dias, imagina...
-Você sabe que você não mente muito bem, né?...
-Ok, eu não to me sentindo à vontade no porão... Esses dias pra ensaiar foi horrível.
-Porque não me disse nada? -Diego segura a mão dela e logo sente a diferença. - Roberta, você tá gelada!
-Diego, vamos pra outro lugar?
-Ok... -Ele a abraça. -Vem então!

  Diego a leva para a cantina, onde os amigos conversam animados.

-Gente eu estava muito nervosa, achei que não ia me classificar. -Carla conta muito animada como havia sido a eliminatória. Todos ouvem contentes, afinal isso significava que iriam para São Paulo no feriado.

-Minha namorada é demais mesmo! –Tomás fala enquanto a abraça.

 Todos estavam ansiosos com a viagem, a única que desde que sentou à mesa, não mostrou interesse, foi Roberta. Tem o olhar perdido.

-Roberta! Você não está feliz com a viagem? –Alice se incomoda com a desatenção da amiga.

-Não sei se eu vou!

-Como não vai?!- Carla se espanta com o jeito seco com que Roberta responde. -Quero todos vocês lá!

-Por que você não vai? -Alice insiste.

-Ah, mas que saco! Eu não quero ir e pronto! -Roberta se levanta, deixando todos sem ação, exceto Diego, que segue atrás dela, mas só a alcança finalmente no jardim.

-Ei! -Ele segura seu braço. -Porque você não fala logo com eles?

-Não! Vão achar que eu to louca!

-São nossos amigos! E amigos se ajudam!

-Olha eu não preciso de ajuda! Só preciso saber quem anda me atormentando... -Ela cruza os braços zangada.

-Roberta, eu estou do seu lado, mas acho que você deveria procurar ajuda.

Roberta olha indignada, ao perceber que tipo de ajuda ele esta sugerindo, e começa a alterar a voz.

-Você acha que eu tô louca né?!

-Claro que não linda! –Ele tenta dar um abraço mas ela se esquiva.- Ei! Só acho que foi um trauma grande, que não dá pra superar sozinha.

-Você não acredita que estão me perseguindo né?

Diego tenta se aproximar outra vez, mas ela novamente se esquiva, agora furiosa, pois percebe que Diego não acredita nela.

-Eu preciso de alguém que acredite em mim, não de alguém que ache que eu to pirando!

-Roberta calma! Nós estamos juntos nessa! -Diego tenta segurar seus braços, mas ela não deixa.

-Não estamos não! Você não acredita em mim!

 Ela sai andando rápido e Diego atrás dela outra vez.

 Sem que nenhum olhar a pudesse acusar, Marina sorri escondida atrás de uma árvore. Seu plano estava dando certo. 

Pedro, Alice, Carla e Tomas vão pra sala de estar conversando sobre o ocorrido na cantina.

-Gente, ela tá muito estranha. 

-Você não faz idéia do quanto, Pedro! Tem dias que ela anda a noite toda pelo quarto, não é Carla?

-É... -Carla reluta em confirmar. -Ontem eu até vi ela trancando a porta e a janela.

-Acho que ela não superou o sequestro. - Tomas conclui

-E o pior é que ela e o Diego estão se fechando nisso, não falam com a gente. -Pedro reclama e prossegue:

-Temos que dar um jeito pra que falem! Somos amigos! Eles precisam dividir, pra gente poder ajudar!

-Lá vem vocês com esse papo de liga da justiça... - Tomás também reclama, cruzando os braços.

-Tomás! -Carla dá uma cotovelada no namorado. -Ele tá certo! São nossos amigos, temos que ajudar!

 Todos concordam que de alguma forma precisam ajudar, pois enfim estavam ali sempre para o que desse e viesse, mesmo que parecesse mesmo uma liga de super heróis, os amigos muitas vezes são isso mesmo e até um pouco mais. São várias as carreiras seguidas por quem decide ser um verdadeiro amigo.

 No céu algumas poucas estrelas eram vistas, estava negro e somente as luzes espalhadas pelo colégio davam certa visão a eles. Não eram muitas também, mas estava um belo clima.
 Diego segue atrás dela, enquanto com um beice enorme, Roberta dá passos firmes e largos no chão, rumo a lugar nenhum.
-Roberta, não foge de mim!
-Eu não to fugindo!
-Ah, não? Então porque eu to correndo atrás de você?
 Ela para ainda de braços cruzados, havia chegado muito longe. Seus olhos começam a ficar mais amansados. Se vira de lado, sem querer encará-lo. Sente-se um pouco sem jeito.
-É porque você me ama? -Ela tenta melhorar a situação.
-Por isso. -Ele vai até ela. E porque eu acredito em você.
-Isso não é verdade. -Ela fecha o tempo.
-Eu quero acreditar em você, mas também quero que fique bem.
-Eu sou vou ficar bem, se você ficar comigo.
 Diego sorri mais uma vez como tantas. Ela tinha um jeito que o deixava muito bobo.
-Vou estar sempre. Não fica brava tá?
-Tá... -Ela cruza os braços fazendo birra, mas Diego a agarra dando muitos beijos em seus ombros e em sua nuca. Tais beijos acabam por amansar a fera.
 Agora com os olhos vermelhos como o fogo, Marina os vê, decepcionada consigo mesma. A fúria toma conta, mas não daria o braço a torcer. Sai pisando alto para dentro do colégio outra vez.

Ao caminhar pelo jardim naquela noite, eles dão as mãos enquanto recebem o ar que toca fresco seus rostos calados. Distraídos eles não veem a dança sutil das folhas com o vento. Estavam com muito a pensar, mas uma vontade maior de estar desligados dali.
 Eles param perto de um pequeno poste e uma luz dourada desce sobre os cabelos de Roberta. Seu olhar que focado ao dele ficava ainda mais bonito, estava outra vez como antes.
-Linda... -Ele chega muito perto sorrindo. -Gosto tanto do seu sorriso...
-Gosta é?
-Muito... -Diego faz um carinho com intensão de mais se aproximar daquele rosto.
-Eu gosto mais quando você não me deixa sorrir...
-Como assim? -Diego estranha.
-Não consigo sorrir com a sua boca em cima da minha.
Ao vê-la mordendo o lábio com um olhar traquina, Diego não se segura. Faz então o que ela tanto gosta. E por minutos sem fim eles se beijam, se abraçam, sentem as mãos, a pele, a vontade e a reconciliação que é a prova de que seria muito mais difícil do que se imaginava destruir o que nada até então havia conseguido.


 O dia amanhece e Diego segue cedo para a cantina, mas para ao cruzar com Marina no corredor.

-Olá... –Ela fala timidamente.

-Oi... – Diego responde apressado e impaciente.

-Posso falar com você? -Ela segue com aquele olhar ingênuo, que qualquer um que não a conhece, compra.

-Marina, eu sei que disse que podemos tentar de novo, mas agora não dá! -Antes que ele lhe dê as costas e a deixe falando sozinha a menina solta:

-Tô namorando o João! 

-Como? –Diego para sem entender.

-Bom, eu pensei em tudo que você me disse, e resolvi dar uma chance pra ele.

-Você não pode brincar assim com os sentimentos dos outros. –Ele a encara muito serio, porém ela sorri docemente.

-Mas eu não estou brincando, fui sincera com ele. Disse que quero esquecer um menino de quem gosto muito. -Ela faz uma pausa, respira fundo e olha para o chão como se o assunto a constrangesse, mas continua. -Ele compreendeu e aceitou. Sabe to arrependida, sinto falta da sua amizade. 

O jeito choroso deixa Diego sem ação. Quando ele cogita a possibilidade de se aproximar de Marina com alguma palavra, Roberta aparece cheia de hostilidade.

-Pode ir guardando suas lágrimas de crocodilo para quem acredita nelas garota!

Marina a encara com uma raiva, que mesmo disfarçada, se pode notar. Seca o canto dos olhos que nem molhado está, e segue falando.

-Sei que não acredita, mas me arrependi sim, não de ter tentado ficar com o Diego, mas sim de ter perdido a amizade dele.

-Perdeu a noção do perigo? –Roberta avança sem acreditar na cara de pau da garota, mas antes que ela pule no pescoço de Marina, Diego a segura e resolve assumir a situação.

-Olha Marina, é melhor você não provocar.

-Não! –Marina rebate. –Só estou seguindo seu conselho e sendo sincera, eu realmente me arrependo, porque isso custou a nossa amizade, e quero deixar bem claro que só me aproximei de você, Roberta, porque queria conquistar o Diego, porque eu não gosto de você! -Ela a encara desafiadora.

Roberta fica sem ação, por essa ela não esperava, pelo menos não na frente de Diego.

-Olha Marina, agradeço a sinceridade, mas outra hora nos falamos. -Assustado e temendo a reação de Roberta, Diego resolve retirá-la dali.

 A rebelde se irrita e segue na frente, enquanto que o namorado fica para ouvir a última frase de Marina.

-Tudo bem Diego, só peço que não conte ao João que o garoto é você, para não ficar um clima chato.

-Ok!

Diego sai e a deixa no corredor. Assim que ele vira, ela sorri. Estava extremamente satisfeita. Binho aparece logo atrás dela, batendo palmas.

-Nossa! Tenho que te dar os parabéns! Você realmente é uma excelente atriz!

Ela se vira pra ele, e mexendo uma mexa do cabelo o encara sorrindo.

-Eu sei! Sinceridade na medida certa é uma arma quase invencível.

Ela se aproxima sedutora, já percebeu o fascínio que causa em Binho. Descendo a mão dos ombros para as costas dele, ela continua falando.

-Sou assim desde que comecei a falar, minha irmã mais velha sempre se complicou por minha causa.

 Ele gosta de Pilar, mas não consegue evitar a atração que sente por Marina, na verdade, seu ego não consegue evitar, afinal, vê-la agindo era como se ver em um filme, com a diferença que ela é mulher. Ela é má e manipuladora, coisa que admirava muito. Era como ter alguém à altura para competir.

 Pilar aparece quebrando a hipnose em que eles se encontram.

-Atrapalho?

Marina sorri cinicamente e se afasta de Binho.

-Ora Pilar, você acha que eu quero o Binho?! – Marina solta uma risada muito debochada. –Ele é todo seu querida!

Marina sai rindo do ciúme de Pilar, que fica séria e de braços cruzados olha para Binho.

-Quê?! Ela que tava jogando charme pra mim! -Ele ri em seu jeito cafajeste de ser.

-Eu não sou idiota Binho, eu vejo como você olha pra ela!

Ele puxa Pilar para um beijo. Ela tenta evitar o empurrando mas em uma confusão de braços e mãos, ele a agarra. Realmente, não era do tipo romântico, mas era seu jeito bruto que deixava Pilar sem ar.

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