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Cap 33- Conversando a sós

O sol chega de manso invadindo cada centímetro da terra. Ainda divide espaço com gotículas de água que flutuam por seus raios amarelos.
 O colégio está calado e nenhuma sombra de vida passa por ele. Todos estão  aproveitando o que sobrava da noite anterior e de tudo que ela ainda poderia acarretar.
 Binho desce as escadas do porão muito cauteloso. Cada movimento é medido.
 Deitada no sofá, Pilar geme amordaçada. As mão amarradas e viradas nas costas fortemente, assim como os pés que estavam esticados no móvel.
-Nem me olha assim, você me obrigou a fazer isso! -Binho é cínico.
 Ele senta e começa a retirar de dentro de uma sacola, alguns alimentos, obviamente roubados da cantina, que a essas horas ainda não estava aberta.
-Você quer? -Diz mordendo uma maçã e sentado no braço do sofá antigo e esverdeado.
 A garota continua forçando a voz e batendo o corpo sem sucesso. Binho a olha despreocupado e com uma tranquilidade irritante.
-Olha, eu só vou te soltar pra você comer se me prometer que vai ficar quieta! Ok?
 Pilar afirma que sim e ele a solta.
-Eu te odeio!
-Ah, isso é mentira... -Diz abrindo uma garrafa de suco e dando em sua boca.
-Me solta! Você acha que não vão me procurar? Além do mais os rebeldes ensaiam aqui e...
-Eu sei... Nós não vamos ficar aqui...
 Pilar sente um baque.
-Nós? Você não tá pensando em...?
-Eu vou embora... E você vai comigo ué!
 Assustada, Pilar não consegue falar. Permanece de olhos arregalados olhando a frieza do garoto que estava do seu lado. O que ele seria capaz de fazer e o que ele teria feito não pareciam mais suposições. A maneira como ele agia levava a crer que ele realmente era o culpado pelo sequestro de Roberta. Afinal iria fazer o mesmo com ela.

 Longe dali alguém despertava. As horas de sono haviam sido poucas, mas mesmo assim algo a fazia acordar.
 A visão vai surgindo aos poucos com o fraco clarear que invade seu rosto. Roberta mira o quarto ainda sonolenta. Vasculha tudo e percebe alguém respirando tranquilo ao seu lado. Aquele som lhe dizia simplesmente que havia realmente acontecido, e ainda vibrava em seu peito algo inexplicável.
 Ela vira um pouco para trás com um sorriso preguiçoso e começa dar breves selinhos no namorado que desperta já a apertando nos braços.
-Bom dia meus olhos lindos...
-Bom dia amor...
-Amor? -Ele estranha mas fica vidrado no som que aquela simples palavra produzia.
 Diego a recebe quando ela o abraça, e a aperta ainda mais. Ambos permanecem nesse abraço, como se pudessem interromper a vida e tudo que os cerca nesse tempo em que coração com coração podem conversar sem medo. Em que o ar quieto se faz entender, e as importâncias do dia a dia, todas, todas se esfarelam. Ficam de longe a observar aquilo que projeta mais alegria que muita coisa que consideremos realmente importantes na vida. São coisas da felicidade, essas que fazem a gente se perder ao procurar e ficar perplexo ao encontrar.

 Quando puxam o ar para dentro com força, eles quase que não soltam mais, sentem se desgrudar aos poucos. A pele vai dizendo um não como se já fizessem parte do mesmo corpo.

-Diego a porta! -Roberta interrompe o beijo que ele começava. -Alguém pode...
-Ei... Calma. Não vai acontecer nada... -Ele é carinhoso. -Eu fechei, não se preocupe...
 Ela se tranquiliza com um sorriso manhoso e se devolve a boca dele. Era uma vontade constante, um momento que tinha de ser aproveitado completamente.
-Eu quero te levar daqui... -Diz Diego.
-É?... Então eu vou tomar um banho...
 Eles trocam um beijo ligeiro e Roberta vai se sentando na cama. Ele fica olhando cada movimento dela. A rebelde vai se envolvendo com um lençol branco, ainda com as pernas, braços e ombros descobertos.
-Ei... -Ele a chama vendo-a retornando o olhar.
 Alguns cachos tomam-lhe o rosto, onde os olhos se apertam com a claridade e um sorriso travesso molda a personalidade forte e ao mesmo tempo sensível de Roberta.
-Você não quer saber pra onde vou te levar?
 Ela faz um sinal negativo com a cabeça.
-Eu vou pra qualquer lugar se você for comigo.
 Diego abre um sorriso, mas a frase dela não terminava ali. Roberta se abaixa até o ouvido dele e sussurra:
-Vai ficar sozinho aqui?
 Diego entende. Para nela alguns instantes.
-Água?

  A manhã vai passando e já é hora das vidas seguirem sua rotina estimulante ou tediosa. Pontos de vista são o que ditam o que segue.
 Na mesa do café, Alice é questionada.
-A Roberta ainda não acordou?
-Não sei pai. Se quiser que eu vá lá ver...
-Quero sim. Vamos tomar café como uma família. Você chama a Roberta e eu a Eva.
 Decidido Franco sobe as escadas e Alice o segue. Ao deixá-la sozinha no corredor do quarto de Roberta a garota ainda não sabe se abre a porta.
-A Roberta vai ficar uma fera... -Diz mordendo o dedo mindinho. -Ah, que se dane. -E abre a porta.
 Ao ver ela não acredita. Como seria possível? O quarto estava vazio, não tinha nem sombra dela e parecia que já estava assim há bastante tempo.
-Alice retorna à mesa sem saber o que dizer. Para em frente ao pai e diz um pouco receosa.
-Eu acho que ela tá no banho. Acho também que não vai tomar café... -Alice tenta proteger a amiga.
-A Roberta não querendo tomar café? -Franco estranha, pois a garota geralmente tinha um apetite e tanto. -Bom, tudo bem... Se ela não quer.
 Alice começa a ficar perdida nos pensamentos que vão surgindo.
-Filha senta. A Eva já tá vindo.
-Quê? -Ela volta a terra.
-Disse pra você sentar que... -Franco percebe que ela está diferente. -Tá acontecendo alguma coisa que eu não sei?
-Nada! Não tá acontecendo nada! Eu ainda to com fome, é isso! Vou comer...
 Ela se senta rapidamente, disfarçando e deixando o pai com uma certa desconfiança.
 Tudo parece correr até normalmente aos olhos dele e pensava sozinho:
-Deve ser somente mais uma bobagem que os adolescentes adoram colocar em destaque, só para que os adultos fiquem de cabelo em pé.
 Afinal, o quanto de seriedade colocam nas palavras de um jovem? E quanto crédito dão para os inexperientes seres que eles deveriam educar? Enfim que importância tem não é?...
 Seria mais fácil se ninguém pagasse pra ver...


 Óculos de sol, cabelo jogado nas costas e uma saia curta a cobrir o biquíni escuro. As pernas estão sobre as dele, quase está toda em seu colo.
 Diego aperta seus joelhos e Roberta se apóia de costas em seu peito sobre a camiseta branca.
 Naquele canto escondido da praia, eles se excluem de todas as responsabilidades.
 Essas das quais nem se lembram mais.

-Voltamos para o mesmo lugar. -Ela olha as folhas que se balançam altas nos coqueiros.
-Mas estava diferente... Era noite. Nem parece o mesmo lugar...
-Então se parece com a gente.
 Diego continua a acariciar os braços dela e a beijar seu rosto enquanto conversam.
-Parece é? Porque?
 Roberta sorri para ele como que dissesse: "Você sabe porque!"
-Alguém pode passar aqui e dizer que não tem nada demais... É a mesma praia... Mas não é...
 Diego entende e também sorri. Os dois fazem alguns segundos de silêncio até que ele fala.
-Se sente diferente?
-Sinto...
-Eu também... Você imaginou assim?
 Ela olha outra vez para o lugar.
-Não...
-Não?... -Diego vai rodeando o assunto.
 Roberta finalmente se eleva completamente ao seu colo e ficam de frente.
-Eu imaginei muita coisa. -Diz brincando com a gola da camiseta dele. Puxando um pelinho imaginário para evitar de olhá-lo. Mas tem um sorriso teimoso ainda escapa sem querer.
-Dizem que fica melhor com o tempo. -Ele sorri de lado. O desejo por ela parece ter aumentado ainda mais.
 Logo se olham e se examinam por alguns segundos.
 Tanta proximidade é sempre irresistível para eles e logo se beijam. Mas fazem devagar. Aprenderam a valorizar cada pequena sensação para torná-la ainda melhor.
 Diego sobe as mãos, indo acima dos joelhos dela e um pouco além, até que eles prendem o beijo um pouco mais que o normal.
 A sombra fresca, naquela manhã, ouve tudo que não sabe contar.
-Você é linda... Ainda mais linda do que eu imaginei.
-Você também...
-Eu não te...
-Não... -Ela deduz o que viria. -Você foi muito carinhoso comigo. Eu nem...
-Não? -Ele olha por cima dos óculos com sorriso de criança levada.
-Não. -Ela retira os óculos dele e leva as mãos em seu rosto. -Você soube levar... Foi gentil... Não teve pressa...
 Diego beija as mãos de Roberta e agora é sua vez de lhe acariciar o rosto. E faz isso com muito jeito.
-Eu quero você pra sempre. E não quero nunca que se sinta mal. O meu prazer é ver o seu...
-É? -Ela ri um pouco sem graça. Talvez algo ainda estivesse sendo mudado dentro dela.
Não é só o corpo que passa por mudanças. Geralmente as mais bruscas são aquelas que aos olhos alheios nem estão acontecendo. E são as que fazem você crescer ou regredir. E isso é um fato.

 Diego encosta em uma pedra, com os olhos no mar. De lado sobre seu colo, Roberta leva a cabeça ao peito dele, e ambos se distraem com o horizonte incerto e que ao mesmo tempo estava mais bonito do que nunca.
-Ai, eu ainda to com sono...
-Também. Ainda mais depois do banho que tomamos... -Diego acrescenta.
-Mas banho não ajuda a acordar?
-Mas o que aconteceu lá dá mais sono...
-Verdade. -Roberta ri da malícia que se instalava na conversa e começa a morder o lábio.
-Mas sabe que você tem razão! -Ele se prepara para levantar.
-Tenho é?
-É! Um banho de mar pra acordar!
-Não! -Roberta se levanta e sai correndo pela praia. Diego, claro se põe a persegui-la.
 Os pés descalços pela areia afundam sem conseguir ir muito longe. Entre risos eles se agarram. Roberta escapa e é pega muitas vezes e os dois caem na areia. Entre o balanço de bocas a brincar com as sensações, eles vão fazendo o namoro com beijos roubados. No velho estilo "se pegar leva."
 Ao caírem pela última vez, Diego fica por cima dela e segurando seus pulsos, faz uma proposta. Ainda ri e respira rápido. A brincadeira havia gerado bastante cansaço.
-Vamos fazer assim... Eu não te jogo na água com uma condição.
-Qual? -Roberta observa o sorriso de Diego, esperando que qualquer coisa pudesse vir.
 Ele sussurra em seu ouvido e ela reage ainda rindo.
-Diego!
-Não quer é? Então vai pra água! Diego a puxa no colo em direção ao mar.
 A manhã estava quase no fim quando se renderam.
 Roberta sai da água com a saia em mãos.
-Vamos almoçar? -Diego convida.
-Vamos! -Roberta lhe dá um beijo e começa a se vestir, mas logo se depara com Diego observando e ri.
-Que foi?
-Tava lembrando de uma coisa. -Diego é sorrateiro.
-De que?
-Realmente valeu a pena esperar. -Ele vai se aproximando.
-Mas esperar o que?
-Lembra quando eu e o Tomás ficamos debaixo da cama e você iria mostrar aquela pinta pra Carla?
-Como eu poderia me esquecer de uma cena dessas! Foi hilário! Mas...
-Eu morri de vontade ver aquele dia...
-Ah!! -Roberta abre a boca e põe a mão na cintura. -É assim é?
-É... -Ele a puxa pela cintura, ainda somente de biquíni. -Valeu a pena esperar... E quer saber?
-O que?
-Tenho que te avisar que to apaixonado por ela! -Diego ergue os ombros brincando com a rebelde. -E agora eu e essa pinta não vamos poder mais ficar sem nos ver...
 Roberta dá um leve empurrão no namorado e eles se beijam um pouco mais. Afinal um pouco mais é necessário aos sonhos mais profundos. Esses que são montados peça por peça em um grande emaranhado de cristais de ilusões, que é onde guardamos nossos olhos de ver além do que é possível...


<<Cap 32       Cap 34>>

Comentários

  1. Ameiiiiiii!!! quanto carinho... adoro!!!ficou perfeito!!(Scheila)

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  2. nossaaaa que safadeeeeeeeeeenhoss eim? kkk
    aline sua web ta muito perfeita pf posta o resto logo pf

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  3. caracaa muito perfeitoooo!!!!!! essa web novela ta fiacando cada vez melhor. parabens aline vc manda muito bem como escritora vc tem um otimo futuro!!

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  4. Muito lindu nem agreditu qui ja postou demorou!!! bom mais ta lindo muito mesmo.........
    joicy

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  5. UAAU NO BANHO TBM KKKKKKKKKKK AMEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEI

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  6. na cama depois no banho ameiiii super iper mega perfeito

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  7. Ainda não consegui editar esse cap mas postei assim mesmo.
    Obrigada p tudo gente, bjus
    ;)

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  8. que safaticnhos os dois na cama e no banho tembem ficou lindo d+ agora posta o resto.TAYENE.

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  9. muito lindo mesmo amei,to loca pra ler o capitulo 34
    Amanda

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  10. adorei posta o 34 logo por favor

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  11. Quem é Scheila? [...] Brizei né,tipo num é da minha conta!

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