Cap 27- Eu não acredito em anjo

  Ao acabar o espetáculo de dança, os dois casais sem pela noite para aproveitar um pouco a liberdade antes de voltar às trancas do Elite Way.
-Carla, você foi demais!
-Ah, obrigada Alice, mas o Rafa também foi demais, sem ele eu...
-Como é que isso?
-Que Tomás?
 Os rebeldes caminham pela praia e só o namorado de Carla não parece ter a mesma empolgação.
-Que intimidade é essa minha filha? Achei que fosse só tratamento profissional!
-Eee... To vendo que alguém aqui vai ter muito trabalho com essa criança... -Pedro brinca.
 Todos zoam Tomás e se divertem pela praia. Ao se sentar na areia, eles logo pensam no casal que falta.
-Alguém sabe o que houve com a Roberta?
-O Diego me mandou uma mensagem me dizendo que voltariam pro colégio.
-Só isso Pedro? -Alice estranha.
-Ah, ela é cheia de manha, vamos aproveitar a noite que com certeza eles também devem estar aproveitando.

 E dizendo isso eles curtem mais alguns minutos da noite que logo se tornaria madrugada. O colégio os esperava e logo era preciso voltar.
 Ao se aproximar do corredor acompanhada do namorado, Alice ainda troca um ou outro beijo antes de entrar no quarto. Ainda um pouco longe da porta eles veem Diego sair.
-Diego? -O casal interrompe o abraço e se assustam ao mesmo tempo.
-Que foi gente?... Eu ein... - E sem dar muito papo, o rebelde segue, passando por eles calado e com bom ar.
 Pedro e Alice se olham com um meio sorriso.
-Você acha que... ?
-Não... -Pedro pensa. -Será?
-Vou entrar, tiau!
 E com, muito mal, um selinho, Alice se despede do namorado, morta de curiosidade. Pedro fica parado por um instante balançando a cabeça. Ele sabe que esse jeito dela não muda, e se diverte muito com isso.


  Ao entrar, ela ve Roberta sair do banheiro enrolada em uma toalha, o quarto está com as luzes apagadas e Alice fica ainda mais curiosa.
-Você tava tomando banho?
-Imagina... Ta chovendo dentro do banheiro! -Roberta implica.
-Chata!!
-Também olha as perguntas que você faz se não merecem! -A garota começa as rixas.
-É que eu vi o Diego saindo do nosso quarto e agora te vejo de toalha! -Alice arregala os olhos. -Que tava rolando aqui?
-Não acredito que ele não te contou... -Roberta debocha.
-Vai falar ou não? -Alice se irrita.
 Roberta segue até o seu lado do quarto com um ar irônico.
-Ahh... -Diz naturalmente. -Eu resolvi fazer um show particular pra ele!
-Ei, é sério!
-Ué, mas é sério! Eu joguei ele na cama! Arranquei a camisa dele!...
-Roberta!! -Alice fica pasma, mas a amiga continua calma e sorridente. -Ainda bem que eu e os outros demoramos...
 Roberta sente a sutileza.
-Hum... Porque essa agora?
-Não quero nem saber o que eu iria encontrar nesse quarto se tivesse chegado mais cedo...
-Não iria encontrar nada!
-Nada de roupa né?
-Alice! Deixa de ser encherida!
  Roberta vai secando o cabelo sentada sobre a cama desarrumada e Alice logo vai montando os detalhes do quebra-cabeças.
 As meninas se olham ao mesmo tempo. Uma espantada e a outra percebendo o espanto alheio. Um clique se deu na cabeça de Alice, parece que ela já traduziu o que de fato poderia ter acontecido naquele cenário.
-Quer saber? Vou dormir que é o melhor que eu faço... -Roberta se joga debaixo do edredom e esconde o rosto.
-E vai me deixar no escuro é?
-Acende a luz que melhora...

 Alice fica irritada por não conseguir tirar nada de Roberta, apesar disso, ela imagina bem o que pode ter ocorrido. O que ela não sabe é que do outro lado, no quarto dos meninos, uma conversa parecida está querendo começar.
 Diego sai do banheiro e se apronta pra dormir. Ao se deitar ele vê Pedro abaixar a revista dos olhos desconfiado.
-Que foi?
-Nada. -Ele retorna à leitura.
-Então tá...
-A Roberta tá bem?
-E porque não estaria?
-Por causa do lance lá na platéia... -Pedro não tira os olhos das letras e Diego de braços cruzados, também não o olha.
-Ela tá bem, não foi nada de mais...
 Tomás entra no quarto e para no meio dos dois. Levanta as sobrancelhas e olha pra um... olha pra outro...
-Tão discutindo a relação é?
-Ah, cala a boca Tomás... -Os dois falam em coro. Parece que a noite hoje estava propensa a pensamentos iguais.
-Eee quanto afeto!... Já vi que as meninas estão tensas... -O jovem se senta e se põe a olhar os amigos. -Vai, comecem a falar...
-Ah, o Diego é que tem coisa pra contar... -Pedro fala entre dentes.
-Eu? -O rebelde encara Pedro.
-É coisa séria? Teve problemas com a Roberta? -Tomás fica sério.
-Não... -Diego é evasivo e não leva o assunto adiante.
  Os amigos olham para ele como se esperassem uma continuação que aparentemente não viria.
-Meu filho, você podia facilitar né? -Tomás quer saber.
-Agora eu tenho que ficar contando tudo que acontece pra vocês é?
-Não... -Os amigos demontram compreender.
-Ah, bom! Ainda bem! -Diego se vira e deita. -Apesar de que foi muito boa essa noite. -Ele sorri.
-Parece que hoje teve, Pedro!! -Tomás e Pedro continuam provocando enquanto Diego despista.
 Um olhar e um sorriso satisfeito vai se desfazendo à medida que o sono vai levando suas ideias para um outro mundo. Já, já, o dia amanhece e é hora de recomeçar, torcendo para que ninguém tenha sentido a falta dos seis adolescentes mais rebeldes do Elite Way. E os segredos que rondavam suas vidas pareciam crescer. Um por se descobriria no tempo certo.

 Logo cedo, após um tranquilo café da manhã, Roberta e Diego namoram sossegados no jardim. Deitada com as costas em seu peito, a rebelde ri da maneira como Diego beija seu rosto suspenso a olhá-lo.
-Ainda bem que a gente não teve a primeira aula né?
-Verdade. -Roberta passa os dedos na palma da mão dele, desenhando algo que ninguém entenderia.
 O sol fresco ainda não chegou totalmente à árvore onde eles estão escondidos. Só alguns raios tímidos passam entre as folhas, iluminando os cachos dourados sob o olhar detalhado de Diego.
 Roberta se aconchega nos braços do namorado. Ele olha para os lados para ver se há perigo, e sorrindo trás o rosto ao dela. Beija seu queixo chegando lentamente até a boca. Ao tocar os lábios um do outro, eles ficam um longo tempo se beijando. A medida que o fôlego não aguenta, eles vão diminuindo o ritmo e terminando tudo com os selinhos discretos. Não que quisessem terminar, mas sabem bem que se não mantém o controle não parariam ali.
-A Alice perguntou alguma coisa?
-Perguntou.
-E você contou?
-Eu não... -Roberta faz seu jeito.
-Porque?
-Eu não vou ficar contando de nós... Nem pra Alice...
-Eu também não contei. -Ele a observa e leva suas mãos às dela acariciando de leve. -Nossos momentos são só nossos.
 Roberta sorri.
 Eles permanecem assim escondidos, mais algum tempo. Quanto mais eles se tem mais precisam um do outro. Não se saciam com um só beijo, ou um só abraço. O primeiro é sempre aperitivo para o segundo e o segundo para o terceiro... E assim vai... Em uma sede tamanha.
 Logo que o sol começa a esquentar, o casal se levanta e caminha pelo jardim.
 Passo a passo... Mãos dadas que dialogam como muitas bocas não conseguem fazer. A saia rodada ainda leva um pouco da grama. O terno azul dele também denunciava o esconderijo. Mas eles caminham sem se lembrar do porquê das coisas ou do tempo... Pois como é bom estar lado a lado com alguém e poder sorrir ao mesmo tempo por qualquer motivo, ou simplesmente sem pronunciar palavras poder ter a melhor conversa de sua vida. Tem eles, todo um discurso que perfeito salta do olhar, traduzindo melhor que a fala as declarações que nem sabem como fazer tão perfeitas. Tudo basta nos segundos em que estão juntos. E não é preciso muito mais para um dia feliz...




 Na sala de estar Marina mexe no celular e conversa com Carla ao mesmo tempo. Ela mostra as fotos de sua viagens e as duas parecem se entreter bastante.
-Ah, não me diga? Ah, então quando for "A apresentação" você vai estar lá! Eu não sabia que você gostava de dança!
-Eu gosto sim... Só não sei dançar, mas gosto de assistir, principalmente os clássicos. Eu sempre choro, eu sou uma boba!
-Claro que não!... Tem apresentações muito bonitas! -Carla é simpática e o assunto rende.
 Ao ver que Roberta viria até a sala e desvia por causa de Marina, Carla vai até ela.
-Roberta!
-Que?
-Por que você tá evitando ela?
-O Diego é amigo dela, e se eu for lá não vai prestar! -A menina é arisca.
-Ela me disse que quer falar com você. Ela tá chateada de pensar que você possa estar com uma ideia errada dela...
-Carla, eu não acredito em anjo! Não acredito! Essa menina anda com uma auréola na cabeça! Só falta tocar arpa!
 Carla olha para Roberta repreensiva.
-Tá! Eu vou falar com ela! -A rebelde passa pela amiga rumo à sala.
-Roberta!
-Oi! -Ela se vira novamente.
-Não morde ela tá?
 Roberta faz língua e segue. Já no sofá da sala, a menina miúda e de gestos contidos tem um semblante amedrontado.
-Fala.
-Bom... -Marina olha ao longe como se pensasse no que falar. -Eu não sei o que pensa de mim, mas eu não quero te atrapalhar. Eu sou assim do jeito que está vendo, não sou falsa!
-Eu vou ser direta: Você não me passa verdade!
-Mas eu sou assim do jeito que você vê! Não quero que pense que eu te quero algum mal. Eu sou novata e só quero agradar...
-Agradar todo mundo não é um bom caminho! -Roberta fica de braços cruzados ouvindo e argumentando.
-Eu sei, mas eu sou insegura! Sinseramente, me desculpa. Eu vou te mostrar que não sou quem você pensa.


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