Cap 29- Uma conversa maliciosa

Chegando em casa as meninas ficam atrás de Roberta, desconfiadas.

-Perderam alguma coisa comigo?

-Você tá diferente... -Alice observa.

-O que é original não muda tá! -Roberta mal responde e já sobe as escadas com as duas na cola.

-E aí, o show tá mesmo confirmado meninas?

-Acho que sim, a Eva confirmou Roberta?

-Confirmou.

-E o Diego?

-Ah, ele vai tá no show também... -Roberta vai retirando as roupas amassadas da mochila, enquanto finge não entender a pegunta de Alice que mesmo assim não se dá por vencida.

-Nem vem com brincadeira que eu te conheço. Você tava toda enciumada e de uma hora pra outra ficou assim?

-Primeiro que você acha que me conhece, segundo eu não estava nem nunca vou estar enciumada. E terceiro...! -Ela faz uma pausa. -Assim como?

-Parece outra pessoa Roberta! -Carla interfere. -A Roberta de sempre, nunca pediria desculpas pra alguém que não confia. A não ser que...

-A não ser o que? -Alice quer entender o que Carla havia acabado de perceber.

-Ela tá aprontando!!

-Nem tô. -Roberta se faz de boba. -Eu só não vou perder o Diego por bobagem. Se ele é quer ser amigo dela eu não vou me opor. Além do mais eu confio no que ele sente.

-Mas você acusou ela de...

-Eu sei... Mas esquece o que aconteceu, eu to recomeçando ok?

-Hum... -Alice admira. -Você não disse que o que é original não muda.

-E não muda mesmo... É aperfeiçoado!

-Hum olha só! ela se acha né?

-Não eu...

-A gente sabe! Você "se tem certeza!!" -Elas falam junto e riem, zoando Roberta, que a partir daí começa uma guerra de almofadas sem hora pra parar.

 Elas passam o finalzinho da manhã juntas. As paredes ouviam os risos e as brigas bobas passivelmente no decorrer das horas.

 O dia passou tranquilo e logo acabou. Pela manhã durante o café, havia dentro de Roberta um sentimento pesado. Imaginar que Marina passaria uma parte do dia com seu namorado era quase um suicídio mental. Porém ela se segura. O plano que tinha em mente precisava que ela se mantivesse fria.

-Tudo bem filha? -Eva percebe que Roberta não está normal.

 A rebelde dá um sorriso forçado.

-Estou ótima!

 E segue então à sua maneira. Afinal sempre era à sua maneira. Certa ou errada, ela nunca pedia ajuda.

 Neste mesmo instante Diego está frente a casa de Marina. Mochila nas costas e muita disposição para ensiná-la.

-Diego!! Chegou cedo ein? -A menina fez questão de abrir a porta para recebê-lo. E ao trocar um simples beijo no rosto como cumprimento, ela tem uma satisfação que fica realmente nítida.

-Eu disse que chegaria cedo! -Diego é amigável. -Mas e aí, pronta pra estudar?

-A sim, muito obrigada por aceitar me ajudar! É tão difícil se habituar rapidamente a uma escola e pegar as matérias assim de uma hora pra outra.

 Eles vão entrando enquanto conversam. Marina o leva até a mesa de jantar onde estava planejado estudar. A casa era uma verdadeira mansão. Mas não tinha mais pessoas por perto. Aparentemente estariam só os dois e os empregados.

 Eles abrem os livros e os cadernos. Os minutos passam e Marina vez ou outra foge ao assunto para ter uma conversa mais pessoal com Diego.

-Eu admiro muito o relacionamento que você e a Roberta tem... Dá pra perceber que você gosta muito dela.

-Não, é aí que você se engana.

-Como? -A menina até se esquece do livro que tem em mãos de tão surpresa.

-Gostar não... Eu amo a Roberta. Fica muito além de gostar.

 Marina quase deixa escapar sua enorme decepção. E respira fundo para continuar a conversa normalmente.

-Tem muito tempo que vocês se conhecem? -Ela sorri.

-Quase um ano... Mas estar com ela pra mim é sempre uma descoberta nova.

 Outro golpe. Cada palavra de Diego que exaltava seu amor pela namorada, entrava como uma faca em Marina, que de todo jeito estava buscando arrancar dele alguma informação que lhe pudesse ser útil.

-Aposto que assim que se viram se apaixonaram e já ficaram juntos! -Ela começa a armar o cerco.

-Bom... -Diego lembra. -A Roberta foi meio complicada de lidar no começo.

-Ela é bem rebelde né?

-Não é isso... Rebeldia é muito mais que ser revoltado.

-Engraçado...

-O que? -Diego continua simpático.

-Se eu conhecesse vocês antes nunca diria que chegariam a namorar. Cada um é de um jeito!

-Ué! Mas por isso mesmo é maravilhoso! Ela é um mundo novo! E eu to querendo me mudar pra esse mundo!

-Ah... -Ela olha Diego como se achasse lindo o que ele havia dito. Vê que o rapaz parece estar distante. Tem um sorriso parado em seu rosto e isso a deixa furiosa. Ela sabe que deve ter em mente a visão da namorada.

-O bom é que a Roberta parece ser bem liberal...

-Como assim? -Diego começa a ficar sério.

-Desculpa... Isso não é da minha conta... É que eu pensei...

-A Roberta não é assim. Tanto ela quanto eu estamos esperando. Eu quero que ela esteja segura...

-Desculpa outra vez Diego, mas se ela te ama, porque ela não se sente segura?

 Diego, por um breve momento, pensa no que a garota lhe fala, mas rapidamente volta a si.

-Não. Eu sei que ela se sente segura comigo. Eu senti no dia... -Ele olha para ela e percebe que está contando muito de sua intimidade. Apesar disso Marina lhe transmite muita confiança. Talvez seja seu jeito simples, simpático e sempre preocupada com o que se passa ao redor que o faça sentir-se assim. As mesmas coisas que sempre fizeram Roberta não confiar.

-Não precisa me contar Diego...

-Bom, eu vou te contar, mas fica entre a gente, tudo bem?

 A garota faz sinal positivo, ansiosa por ouvir.

-Eu e a Roberta, depois de um passeio com os outros, ficamos sozinhos no quarto dela e... Quase rolou...

-Só que?...

-Bom, já estávamos... Você sabe... -Ele olha desconcertado. -Animados...

 Diego começa a ficar sem graça com o papo mas prossegue:

-Mas nós ouvimos um barulho no corredor.  Eu achei que fosse o Jonas e me escondi. Depois a gente viu que não era, mas ela parou tudo ali e eu concordei. Eu ainda fiquei e esperei um pouco, ela foi tomar banho e... Bom eu não quis deixar ela sozinha... Depois do sequestro ela ficou meio mexida e eu achei melhor esperar...

-Nossa você é muito compreensivo! Qualquer namorado não pensaria duas vezes em... Você sabe...

-Sério? -Diego fica pensativo.

-É claro... Mas eu entendo que o que você sente por ela seja muito mais forte que a insegurança dela em relação a você, e isso te faça esperar a vontade dela...

 Pronto. Marina havia dado a cartada final. Plantado em Diego uma sementinha que poderia germinar rapidamente. A menina miúda, de gestos tímidos e olhar doce, tinha raciocínio rápido e sabia o que estava fazendo. Será?

 À tarde chega. Vila Lene os estava esperando para um ensaio no bar do Genaro, que no fim acaba se tornando um show particular com direito a muita alegria e muitos aplausos.

 Acabado o espetáculo, todos finalmente se dividem. Os meninos estavam, como sempre, ansiosos para namorar.

 Carla e Tomás vão curtir um filme, que entre amassos nem era muito visto. A casa de Leila os recebeu quieta e era só deles.

 Pedro leva Alice para um passeio. Tantos lugares, tantas coisas a noite poderia mostrar ... E fugidos era tudo o que eles queriam.

 E por fim, o último casal... Ai como gostam de água...

 Estava mesmo lindo o mar calmo sob as estrelas. Essas que pareciam estar soltas nos olhares que lançavam um ao outro. Ele às vezes parecia querer devorá-la seguindo os olhos em todo seu corpo sobre a areia, outras vezes parecia querer cuidar, colocando-a em seu peito longos minutos debaixo de carinhos intermináveis.
Tinha ela os olhos fechados e sentia o ar fresco que passava por seu rosto.

-É tão bom ficar assim...

-Assim como?... -Ele diz tranquilo ao vê-la sorrir também tão calma.

-Com você... Gosto quando me abraça assim...

-Mas eu te abraço todo dia... Não que eu queira parar... -Ele ri.

-Bobo... Eu digo assim... -Ela se encolhe mais nos braços dele e vira o sorriso para receber um beijo.

-Posso te soltar agora?

-Você quer me soltar...? -Roberta faz dengo.

-Eu quero te soltar eli ó! -Ele aponta malicioso para o mar.

-Não!! -Roberta não sabe se ri ou grita no instante em que Diego a pega nos braços e corre em direção a água.

 Antes de chegar lá, ela retira a blusa e joga de um lado. Ele também retira a roupa e ambos entram correndo mar a dentro. Os dois brincam nas ondas e se apertam debaixo d'água. Roberta sente os beijos de Diego ainda mais intensos que antes.

-Ai, que frio!

-Com frio é?... Eu vou te esquentar... -Diego a beija impedindo que vista a blusa, já saindo da água.

-Diego, vamos lá pra casa, eu preciso me trocar!

 Estão bem perto de casa e não demoram muito até chegar lá. Ainda é cedo e certamente ninguém havia chegado.

-Tá tudo escuro... -Diego estranha ao entrar.

-Minha mãe saiu com o Franco, a Carla tá com o Tomás, a Alice com o Pedro...

-E eu com você...

-E toda molhada, diga-se de passagem. -Ela ri.

-E eu adoro...

 Eles ainda namoram subindo as escadas. A rebelde mostra a ele o banheiro do corredor e segue sozinha para tomar banho no quarto.

 Diego ao terminar, sai somente de bermuda. A peça estava seca, pois havia tirado antes de entrar no mar.

 Sem saber o que fazer ele resolve então ir ao quarto de Roberta. Ela sendo tão prática, deveria estar pronta, visto que ele sendo tão vaidoso já estava pronto.

 O rebelde entra e não bate antes. Ele leva um susto muito agradável ao vê-la somente de toalha em sua frente, sem pronunciar nenhuma palavra.

-Desculpa. Eu ia bater antes mas... -Ele fica abobalhado com a situação.

-Não, não se preocupe...

 Roberta segura a toalha branca sobre seu peito. Definitivamente não é muito grande e deixa a rebelde meio sem atitude.

 Os cabelos molhados escorrem sobre seus ombros à mostra, e Diego se esquece de sair dali. A cena é linda.

-Por que tá me olhando assim?

-Você tá linda...

 Roberta solta um riso baixo. -Linda assim?

-Muito. -Diego se aproxima olhando fixamente para ela que fica sem reação.

 Ele chega perto bem devagar e passa as mãos pelo rosto úmido. Leva os dedos aos lábios dela, que abertos parecem um convite já aceito. Descendo o toque pelos ombros de Roberta, percebe que seus cílios se encontram e o olhar se fecha. Aproximando a face quente uma da outra, eles também aproximam-se totalmente. Diego sente a toalha dela o tocar bastante molhada. Percebe que a respiração dela muda ao sentir que vai ser beijada.

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