Nós dois e o silêncio - 1ª vez de Roberta e Diego

Roberta não consegue se afastar da tristeza, da saudade. A situação parece não se resolver. O tempo vai passando e aumentando a angústia.

No colégio, ela evita Binho, mas perto de Diego se obriga a dizer palavras que não são realmente as que gostaria.
Tinha dias que, ao vê-lo vez ou outra no corredor ou na sala de estar, tinha a vontade de correr e se jogar sobre ele como tantas vezes havia feito. Mas ao pensar duas vezes recuava.

As férias se aproximam e os planos de Pilar e Diego para uma viagem juntos, vão sendo estruturados. Caminhando pelo corredor eles conversam bastante.
-Tenho certeza que você vai adorar Diego! Fernando de Noronha é lindo!
-A gente vai passar por lá é?
-Claro, temos que aproveitar essas férias! É um lugar lindo, tranquilo, bom pra relaxar... E eu sei que você gosta de mar.
-É. Eu gosto de água. –Ele sorri não muito entusiasmado.
-Você vai gostar, confia em mim.
-Tá certo, então a gente vai se divertir! –Ele levanta a cabeça e põe confiança de que terá belos dias depois das aulas acabarem. Imagina que talvez nesse tempo, esqueça Roberta.

Alice entra no quarto de cara fechada, mas Roberta se faz de cega.
-Se prepara que a gente vai viajar juntas!
Roberta continua a ler um livro sobre a cama e não responde.
-Você não se importa?
-Aonde vamos? –Pergunta ainda com os olhos no livro.
-MEU pai e SUA mãe querem ir pra Machu Picchu! Mas eu quero viajar com o Peeedrooo!!
-Hã... –Roberta é esnobe.
-Você não tá nem aí né? Todos vão viajar em casais, até o Diego vai com a Pilar.
-E daí? O que eu tenho com isso?
-Ah, esqueci, você não ama mais o Diego né? Mas eu vou morrer de saudade do Pedro. –Alice se entristece.
Subindo o livro e virando o rosto Roberta se contém. Firma os olhos e respirando fundo ela sai, deixando Alice confusa.

As malas estão prontas e as passagens em mãos. Eva e Franco acompanhados das filhas chegam ao Aeroporto e encontram, entre outros alunos, Pilar e Diego.

Todos trocam olhares desajeitados, mas logo acaba que cada um o segue o seu rumo.

-Espera um pouco Diego, que eu já volto. –Pilar sai e aproveitando que Roberta acaba de deixar o banheiro, lhe dá um recado.

-A sua mãe esteve perguntando por você. Acho que seu avião já vai sair.

-Não acredito! Mas cadê ela? -A rebelde se apressa.

-Eles embarcaram, mas pediram pra que eu te desse a passagem, vem que eu te mostro onde é que eles entraram.

Roberta segue com Pilar até o local de embarque. Logo em seguida ela volta e vê que Diego a espera impaciente.

-Pilar vem que o avião tá esperando! –Ele a puxa pelo braço.

-Ai Diego, acho que eu esqueci minha bolsa no banheiro! Pode ir na frente que eu já te encontro.

-Tá, mas vem rápido ein!

Diego segue apressado e nesse exato momento Franco, Eva e Alice abordam Pilar.

-Ai, você viu a minha filha, a Roberta? –Eva pergunta desesperada.

-Vi. Ela disse que ia voltar pro colégio.

-Que? Eu vou buscar essa menina agora! –Franco se irrita.

-Ela disse que preferia ficar por lá nas férias, que não tava bem pra viajar.

Depois de muita discussão, Alice alerta:

-Nós vamos perder o voo sabia?

-Então tá, nós vamos sem a Roberta. Se ela prefere assim, não vou estragar as nossas férias por causa dela. –Franco segue com a família até o local de espera.

Pilar pega sua bolsa e volta para trás. E com o celular em mãos e um sorriso no rosto, ela liga para que o pai dizendo que o espera.

No corredor do avião Diego procura seu acento. Já estava preocupado com Pilar, ela perderia o voo se não se apressasse.
-Achei!
-Você? -Roberta se assusta.
-Que você tá fazendo aqui?
-Não, o que VOCÊ tá fazendo aqui??
-A Pilar...
-Ela não fez isso!
-Ah, fez!
Os passageiros começam a reclamar e Diego então se senta. Eles não acreditam. Como poderia isso? As férias juntos. Como Pilar teve coragem de armar isso? seria no mínimo um caos total!
-A gente resolve isso quando chegar. -Diego avisa sério.
Durante toda viagem, eles trocam olhares difíceis, se evitam. Mas sempre havia um cotovelo que se esbarrava, um perfume sentido no ar, um cabelo caindo no ombro alheio... Era impossível evitar.
Tudo seguia tenso até a chegada à Fernando de Noronha já beirando a noite.

-Eu vou comprar minha passagem de volta.
-Agora Roberta?
-Agora. -Afirma.
-Ei, ei! -Ele a segura. -Você fez a mesma viagem que eu, deve tá cansada.
-Diz por você! -Roberta faz pose.
-Eu também vou voltar, mas não hoje. Deixa de ser teimosa e descansa ao menos essa noite.
-Você não tá pensando...
-Não tô pensando nada!...Tô dizendo o que eu vou fazer, e que é mais inteligente do que entrar de novo em um avião só por birra.
Roberta trás o fôlego de volta e cede:
-Ok... Amanhã.
Eles seguem até uma pousada à beira mar. Se registram e seguem cada um para seu quarto.
Os olhos morteiros não disfarçam a dor, nem a raiva. Diego naquele quarto sozinho não consegue impedir os pensamentos. Sabe que a tem perto e ao mesmo tempo longe.

Descalça, Roberta caminha na areia. Sente o ar da noite balançando a roupa leve posta sobre o biquíni. Se senta em uma pedra qualquer e fica a observar aquele lugar tão perfeito, que chega a ser mágico. Mas que nada de alegre lhe traz mesmo assim.
A rebelde ergue os olhos e não consegue respirar ao perceber Diego sentado do outro lado da praia em uma parecida pedra e com um parecido olhar desgostoso.

Ela se levanta receosa e nem sabe porque o faz. O mar exalta as ondas e faz música com as águas. O som é ensurdecedor para os sentimentos e a faz caminhar. Ao vê-la Diego se levanta.
O céu está completamente iluminado e o vento suave. Os passos vão chegando lentamente e ao se encontrar, os olhos ainda não voltam a realidade.
-Como a gente faz isso ein? -Diego começa a mirá-la detalhadamente.
-Faz o que?
-Acaba sempre se encontrando perto da água?
-Eu precisava respirar... -Roberta força-se a endurecer as palavras. -Mas já vi que não vai dar, o ar aqui tá poluído!
Ela se vira fugida, deixando Diego parado ali a remoer cada palavra.
Num impulso ele decide ir atrás dela. Está com raiva e não pode deixá-la sem uma resposta.
Roberta caminha apressada, até que Diego a alcança e a agarra pelo braço.
-Você não cansa de me tratar assim não? Anda me diz o que eu fiz pra você ter tanto ódio de mim assim?
-Me deixa Diego! -Ela puxa o braço e corre ao quarto, que como todos, ficam separados e de frente ao mar. Ela entra e antes que feche a porta ele a impede. Entra nervoso, com muitas coisas ainda a dizer que estão entaladas na garganta.
-Sai daqui se não eu grito!
-Antes você vai dizer nos meus olhos que me odeia. Anda me diz!
-Sai Diego, eu não tô brincando! -Ela se assustava com a proximidade dele e o jeito como a colocava contra a parede com suas perguntas.
-Era mentira?... Diz na minha cara que estava fingindo todas as vezes que você ficava frágil e perdia a selvageria quanto eu te abraçava?
Roberta não reage e segura em seu rosto um choro que por nada no mundo podia ser mostrado.
-Diego eu não vou falar de novo, ou você sai!... -Ela exalta a voz e tenta empurrá-lo sem sucesso.
Ele muda o tom das palavras, engole a raiva e fecha os olhos por um segundo.
-Como você fingiu? Se eu senti seu coração acelerar quando eu disse que te amava!
Roberta tenta se fortalecer mas não consegue, as pernas estão bambas. Ela se mantém de pé mas não ergue a cabeça. Os cabelos soltos cobrem um pouco o rosto e ela não permite as lágrimas.
-Você ainda me ama não é? -Diego enfim percebe que ela chora.
Ele se aproxima com uma percepção diferente das que havia tido.
-Não pode ter sido mentira...
-Mas foi! -Roberta se ergue. -Eu menti sim! Tudo foi mentira!
-É? Então eu quero ver se é mesmo mentira! -E antes de terminar de falar ela já estava presa nos beijos dele. O que a impediam qualquer fuga. As mãos, que tentavam tirá-lo de cima do seu corpo, começam a entregar a guerra. E por alguns segundos eles refizeram a mesma cena de antigos beijos roubados que sempre mexiam com os nervos.
Ao se soltarem, eles respiram no mesmo compasso. Demoram um pouco mais a abrir os olhos , e enquanto isso os rostos ainda não se afastam. As bocas estão muito perto e parecem não querer a mesma briga que os donos.
-Pode dizer que me odeia?
-Não, não posso...
-Nem eu. -Diego se devolve para o mesmo beijo que nem parecia ter sido acabado.
Aquele quarto rodeado pela areia do mar e tão próximo a imensidão das águas, guardava uma noite só para eles. Talvez os motivos e as brigas ainda estivessem como que embaçados, mas havia algo muito claro para Diego: Roberta não conseguia dizer que o odiava. E em todo corpo ele a viu negar que realmente sentisse. Diego a levou entregue e segura em seus braços até a cama. Ele estava totalmente perdido nela, e cada toque era medido no carinho que queria que ela sentisse. Eram toques mais guardados e mais íntimos. Os beijos seguem pela pele até onde nunca tinham ido, assim como as mãos e os olhos descobrem pouco a pouco cada centímetro debaixo das roupas. Eles não controlam os sons nem os movimentos. Os instintos se misturam com o amor e tudo se completa. Quando se unem, o suor do outro é sentido e as mãos apertam aflitas os lençóis. O momento é de se prender ou se soltar no outro. No cheiro, no gosto da pele... Na trêmula sensação que traz um beijo ao final do anoitecer. Quando tudo acaba e mais parece só começar.


A varanda com suas rústicas formas estava já iluminada pelo sol. A janela aberta toda a noite deixava o barulho do mar os acordar pela manhã.
Os dias naquele lugar não podiam se estender e por saber disso, passaram todos eles sem perguntas e sem cobranças.
Tudo estava guardado na mente. As mãos unidas ao caminhar pela praia, as risadas, os beijos... Os abraços dentro das águas azuis daquela linda ilha...
-Eu não queria ir embora nunca. -Diego passa os dedos entre os cabelos dela.
-Eu me lembro de cada segundo aqui.
-Ah é? Eu não lembro não... -Ele brinca.

-Lembro dos mergulhos, dos passeios... -Ela sempre sorrindo.

-Ele levanta a sobrancelha como se perguntasse "Que mais?"

-Lembro... Que suas mãos deslizaram no meu rosto...

Os olhares dele maliciam com ternura a lembrança dela.

-...Você beijou minha nuca e me puxou pra mais perto...E o lençol desprendeu da cama...

-Tinha muito espaço ainda entre o seu corpo e o meu. -Acrescenta Diego.

-Senti seu queixo apoiado no meu pescoço. E cada vez que você respirava enquanto dormia, eu sentia o ar quente que me dizia que eu não precisava me virar porque você estava mesmo ali.

-Toda a noite sentindo você pertinho... Só nós dois e o silêncio... Foram os melhores dias da minha vida. -Ele sorri e faz carinho naquele rosto risonho.

-Eu me lembro que eu estava de costas e você colado em mim quando amanheceu...-Roberta deita nos ombros dele. -Seus braços passavam debaixo do meus, e segurava minhas mãos tão apertado!

-Eu te machuquei? -Diego fica sério.

-Nunca... -Ela se vira, leva a mão até o rosto dele e recebe um beijo que aumenta a força na medida do desejo. Se mordem, se levam e brincam toda a manhã.  

E antes que amanheça e o mar seja abandonado, eles aproveitam até a última hora para ficar mais um pouco ali, e por um minuto que fosse, só mais um pouco. Sem palavras, sem ruído algum, como se dormissem. Mas acordados... Diego e Roberta sabiam, e não queriam perder nada do que, nessa vida, só se sente uma vez...

Fim

<< Ler o anterior    Ler o 1º capítulo da web novela Roberta e Diego>>